Estreando amanhã (15) sua primeira temporada de 8 episódios, Stranger Things, a nova série da Netflix, é uma mistura curiosa entre nostalgia e inovação, entre uma atualização dos clichês do cinema juvenil dos anos 80 e uma homenagem afetuosa a todos eles. Stranger Things “reza no altar de Spielberg”, mas acaba “não se limitando a um exercício de nostalgia”, como destaca a crítica do HitFix.
A trama gira em torno de quatro garotos: Mike é o líder; Lucas é o cético; Dustin é o atrapalhado; e Will é o sensível. Os quatro meninos se envolvem em problemas quando, voltando de uma longa sessão de Dungeons & Dragons na casa de um dos amigos, Will encontra um “algo” misterioso perto do prédio de uma organização governamental. Will acaba desaparecendo, e nos dias que se seguem mais eventos estranhos acontecem – uma outra menina some, um homem comete suicídio, e uma segunda garota, de cabeça raspada e dotada de super-poderes, misteriosamente aparece.
Os meninos encontram essa última menina, chamada Eleven (ou El, para encurtar), e escondem-na dos adultos, usando seus poderes como um guia para tentar encontrar Will. Enquanto isso, Stranger Things se diverte com duas sub-tramas: a irmã de Mike, Nancy, se junta ao irmão de Will, Jonathan, para procurar o menino desaparecido; e a mãe do garoto, Joyce, encontra um parceiro relutante no chefe de polícia local, um amargurado policial de cidade grande que odeia seu trabalho novo.
Equilíbrio complicado
A maioria dos reviews dos grandes veículos americanos cita que o equilíbrio desejado por Stranger Things é complicado: o review do HitFix cita que a série poderia ter caído em várias armadilhas, incluindo uma nostalgia vazia como a de Super 8, filme de J.J. Abrams que também venerava todas as coisas de Spielberg e da época; além disso, Stranger Things escapa da armadilha de se estender demais em suas linhas de história, isso porque os 8 episódios parecem ser “a duração ideal para o modelo do Netflix de considerar cada temporada um longo filme”.
As referências aos filmes de Spielberg, aos livros de Stephen King, às obras de John Carpenter e John Hughes, transpiram de cada cena e cada colocação de câmera de Stranger Things, mas o HitFix se apressa e dizer que os irmãos Duffer, responsáveis pelo roteiro e direção da série, encontraram formas de subverter esses clichês. Embora a garota Eleven, por exemplo, seja praticamente uma cópia humana do E.T. de Spielberg, ela é também uma poderosa força da natureza, com um lado sombrio.
“Dessa forma, Stranger Things se torna não só uma celebração da cultura pop da era que retrata, mas também das formas como o mundo mudou nos últimos 30 e poucos anos”, cita o jornalista. Momentos politicamente incorretos permitidos pela censura frouxa do Netflix não faltam, e Stranger Things se torna um produto vibrantemente moderno mesmo que seja datado.
Problemas
É no review do Slate da série que encontramos a identificação de um grande problema, no entanto: Eleven, a protagonista de Stranger Things, é muito mal-desenvolvida. É o que indica a jornalista Willa Paskin, que cita como a história da personagem por vezes parece incoerente, e como o rico passado e as referências que os criadores colocam para funcionar na construção dela parecem desperdiçadas em uma personagem que serve, basicamente, para ser o primeiro crush de Mike.
Por outro lado, a personagem de Winona Ryder foi elogiada unanimamente. O Slate elogiou a forma como os criadores encontraram a escalação perfeita, se aproveitando do status icônico de Winona por conta de seus trabalhos nos anos 80 e 90, mas também da energia diferente que a atriz de Stranger Things passa hoje: uma energia de peixe fora d’água, frágil e misteriosa, prestes a desmoronar. Na pele da mãe em luto da série, Winona é símbolo de tudo o que ela faz de certo – e de tudo que poderia ter feito de errado.