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The Last Kingdom | Crítica - 3ª Temporada

Os fãs de Game of Thrones já devem estar cansados de ouvir que The Last Kingdom é a melhor série para substituir o sucesso da HBO em seus tempos de hiato. Com esta terceira temporada, tal recomendação só merece ser ouvida ainda mais.

The Last Kingdom é baseada na coleção de livros “As Crônicas Saxônicas”, escrita pelo renomado autor de ficções históricas, Bernard Cornwell. Principalmente na segunda temporada, é evidente o quanto a estrutura e a narrativa da série parecem estar seguindo uma sequência de eventos já estabelecida previamente, de maneira resumida. Personagens entram e saem de contexto rapidamente (com arcos bem definidos, porém curtos demais para padrão televisivo), e a progressão de tempo da história nem sempre consegue ser transmitida com a clareza ideal.

No entanto, é justamente a riqueza de conteúdo que a série encontra em seu material original, que faz The Last Kingdom ser tão fácil de maratonar, sem deixar o espectador entediado ou impaciente. Cada temporada vem cobrindo dois livros de Cornwell, e cada livro possui arcos narrativos específicos cujos inícios e conclusões podem ter suas delimitações facilmente identificadas. Isso proporciona alterações nos contextos e cenários da série que acabam tornando-a muito mais dinâmica do que o público costuma esperar em séries de época, mas a história nunca soa apressada ou superficial.

Tal qual Game of Thrones, a narrativa inclui diversos núcleos de personagens que percorrem os diferentes cenários sem o menor espaço para redundância. As tramas são bem estruturadas entre si, rapidamente apresentando os desenvolvimentos que o espectador é levado a esperar, ao invés de torná-los mera preparação para episódios futuros (tal qual tantas outras séries fazem, sob o pretexto de “construir tensão”). A quantidade de eventos impactantes e catarses de personagens é tão grande que uma única temporada poderia ser estendida para, pelo menos, outras três, caso os roteiristas não estivessem tão empenhados em corresponder as viradas narrativas dos livros de Cornwell. Por sorte, eles estão.

Além da velocidade com que as tramas se movimentam, os personagens principais de The Last Kingdom também possuem trajetórias repletas de reviravoltas e atitudes marcantes que causam grandes impressões no espectador, tornando-os interessantes de se acompanhar. Nesta terceira temporada, Alfred (David Dawson) possui uma conclusão perfeita para o seu arco narrativo, mantendo os temas tratados pelo personagem com coerência, mas preparando o terreno para as histórias que devem vir como consequências de sua morte.

O protagonista Uhtred (ALexander Dreymon), por sua vez, permanece sendo atormentado pelo constante embate entre seu “lado saxão” e seu “lado nórdico”, mas apresenta evoluções perfeitamente condizentes com sua jornada e com as experiências que vem acumulando. Ainda que mantenha seu gênio forte e sua impetuosidade, o personagem se resigna em momentos que teriam sido tratados de forma completamente diferente, no ínicio da série.

Os coadjuvantes que o seguem, por outro lado, nem sempre conseguem ser aprofundados da maneira ideal. Consequentemente, seus impactos nem sempre acabam sendo tão presentes quanto deveriam, alguns meros episódios depois. Mesmo que ainda possa ser apontado, este era um problema mais visível nas temporadas anteriores, com o terceiro ano tratando a narrativa de maneira menos episódica, e permitindo que estes personagens menores pudessem ganhar seu espaço de forma mais proeminente (Ainda assim, a vontade que tenho de retomar a leitura do material original é enorme, pelo simples fato de querer passar mais tempo com alguns breves coadjuvantes).

Este terceiro ano trouxe a bruxa Skade (Thea Sofie Loch Næss), que foi responsável por agitar várias tramas da série. É interessante notar como The Last Kingdom (diferente de Vikings) adota a perspectiva dos britânicos sobre o paganismo que os assola. Como estamos acompanhando estas práticas sob a ótica cristã, a série consegue estabelecer estas práticas de “magia” com um certo ceticismo e com espanto, mantendo a história no campo aceitável da realidade, mas aproveitando os elementos sobrenaturais sem nunca assumi-los completamente.

Skade dá início às novas tramas com sua profecia de que Alfred irá falecer, em um futuro próximo. Tal profecia permeia boa parte da temporada, e adiciona um sentimento de urgência perfeito para a perpetuação da série, que dificilmente conseguiria manter a atenção do espectador somente através de políticas medievais. O cenário acaba sendo bruscamente alterado, e o devido acompanhamento destas políticas é recompensado pela excitação de ameaçadoras influências exteriores.

Em relação aos livros, The Last Kingdom acaba, inevitavelmente, perdendo parte do valor técnico que Cornwell tanto preza em suas obras. Enquanto o autor faz questão de enaltecer os aspectos realistas de suas histórias, a série nem sempre possui a disposição (ou o orçamento) de retratar a Inglaterra feudal com a riqueza de detalhes que seria almejada por qualquer produção deste gênero. Ainda assim, a série é capaz de entregar batalhas épicas e cenários grandiosos que dificilmente desagradarão fãs casuais, e compõem uma escala notavelmente abrangente (além de empolgante).

Se muitos comparam The Last Kingdom com Game of Thrones por causa da quantidade de mortes na série, é válido notar o quanto estas mortes parecem ser muito mais impactantes nesta terceira temporada. Ao invés de morrerem honrosamente em batalha, Ragnar (Tobias Santelmann) teve Valhalla negada durante seus momentos finais, Thyra (Julia Bache-Wiig) foi vítima de um horrendo ato de intolerância, e Alfred faleceu tendo que encarar seu sonho de uma Inglaterra unificada sendo apenas isso, um sonho. Todos os três momentos são capazes de emocionar o espectador, pois necessitam de uma maior compreensão sobre as crenças e circunstâncias destes personagens, e retratam suas conclusões com a devida lástima por suas trajetórias.

Ao menos, no final, Alfred percebeu como seus ideais impediam que seu bom senso falasse mais alto, e sua morte acarretará grandes mudanças tanto para o reino de Wessex, quanto para a perspectiva de Uhtred. The Last Kingdom possui fôlego de sobra para produzir muitas outras temporadas, caso continue apresentando a mesma dinamicidade e o mesmo apreço pela evolução de seus personagens que demonstrou ter, até então. Não apenas isso, mas a maneira como a série trabalha o ritmo de sua narrativa, com o enaltecimento apropriado de determinadas reviravoltas e eventos, deveria ser replicado por muitas outras obras que se propõem a englobar um universo tão rico quanto o de The Last kingdom. Ao menos, enquanto espero a próxima temporada, os livros podem me fazer companhia.

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