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The Witcher | Crítica - 1ª Temporada

Uma das séries mais esperadas da Netflix, a adaptação de The Witcher estreia sua primeira temporada com Henry Cavill como o protagonista Geralt, e consegue desviar de diversas críticas comuns à adaptações como esta, mantendo seu foco no material original e no estabelecimento deste universo fantasioso. 

The Witcher já é uma franquia bem conhecida do público por conta do sucesso de The Witcher 3: Wild Hunt, o jogo lançado em 2015 que continua impressionando jogadores por sua narrativa envolvente e seu mundo aberto estimulante. No entanto, a série da Netflix não se propõe a cobrir os jogos protagonizados por Geralt, mas sim os livros onde o personagem foi introduzido pela primeira vez, e cujas tramas se passam muito tempo antes do que os jogadores estão acostumados. 

Sendo assim, é provável que alguns espectadores já familiarizados com o universo da franquia possam estranhar este início da história, mas felizmente, a série faz um bom trabalho ao estabelecer seus principais personagens, suas dinâmicas, e o funcionamento deste universo com todas as suas semelhanças e diferenças para com as principais comparações atuais. E por se tratar de uma série medieval fantasiosa, a comparação com Game of Thrones com certeza não demoraria a ganhar força em meio à mídia, mas sinceramente, tal paralelo é pouco produtivo, uma vez que The Witcher se propõe a contar uma história menos abrangente do que a popular série da HBO. 

Outra grande diferença da série da Netflix é a quantidade de elementos sobrenaturais que tomam a dianteira durante os episódios, e que com certeza devem agradar fãs de fantasia. Há de se notar, no entanto, que The Witcher possui uma progressão lenta ao longo de sua primeira temporada, e que boa parte de seu apelo mantém-se direcionada a um público de nicho, sendo possível que espectadores casuais pouco impressionados pela ocasional luta de espadas e disparos mágicos, possam ter dificuldade para encontrar apelos mais universais. 

Um dos fatores que chama a atenção de qualquer espectador é, obviamente, a interpretação de Henry Cavill, que se mostra visivelmente empenhado em sua performance como um caçador de monstros rabugento, mas guiado por morais inabaláveis. Fãs dos jogos irão definitivamente ficar impressionados por certas semelhanças desta interpretação, com destaque para a voz e o jeito de falar do personagem, que Cavill parece ter se esforçado para alcançar o máximo de similaridade possível, sem comprometer sua naturalidade. E felizmente, esta versão de Geralt é tão fácil de se gostar e acompanhar quanto se esperaria, sem pesar a mão nos aspectos mais antipáticos de sua personalidade, mas também não ignorando seu lado moral. 

No entanto, a série divide o foco desta primeira temporada entre Geralt, Ciri (Freya Allan) e Yennefer (Anya Chalotra), com tempos de tela bem variados entre cada episódio. Enquanto Ciri protagoniza sua trama secundária própria, intercalada ao longo da temporada, Yennefer poderia ser considerada uma protagonista da série ao lado de Geralt, com um arco narrativo indiscutivelmente mais substancial e impactante do que o do caçador de monstros, até o momento. Dedica-se um tempo considerável à sua origem como a personagem que o público melhor conhece, e após alguns saltos temporais, chegamos ao ponto onde Yen está no centro do grande clímax desta temporada. O foco em sua construção é, com certeza, uma das melhores escolhas desta adaptação, conseguindo manter o progresso da trama geral, mais dinâmico e engajante do que se acompanhássemos apenas a perspectiva de Geralt. 

Mas apesar de seus bons protagonistas, The Witcher acaba tendo seu potencial enfraquecido em certos momentos, quando se nota que a série precisa se esforçar para preencher o formato de seus episódios, ao invés de deixar a história ditar sua duração (uma prática que vem ganhando cada vez mais força com as facilidades de uma plataforma de streaming). Com as diferentes aventuras de Geralt, a série adota um modelo procedural, enquanto deixa que Ciri e Yennefer mantenham o engajamento de uma possível maratona com trajetórias mais contínuas. 

Esta primeira temporada começou apresentando uma estética um tanto engessada, que mantinha uma fotografia acinzentada e uma atmosfera sombria para este universo. Fica clara que a proposta de The Witcher é entregar uma série “para maiores” que aproveite todo o apelo da classificação, com violência estilizada, “gore”, nudez e cenas de sexo espalhafatosas, além de monstros grotescos que poderiam ter saído de franquias de terror/ação do cinema. E para tal proposta, a estética faz sentido, principalmente em sequências onde o clima de tragédia e terror predominam, como no final do primeiro episódio.   

No entanto, tal estética contribui pouco para a formação deste universo e para a sua diversidade. Felizmente, a segunda metade da temporada apresenta algumas variações construtivas para suas fórmulas visuais, e demonstra o potencial do que a série pode vir a apresentar ao longo de sua trajetória, sem manter-se presa à sua atmosfera “pesada”. Variedade importa em narrativas de fantasia, e o que temos é um mundo fantasioso onde criaturas amaldiçoadas com origens trágicas causam massacres em vilas e cidades, mas onde também podemos acompanhar uma caçada a um dragão na montanha, em busca de seu tesouro escondido. 

Nota-se que a série encontrou muitas de suas soluções, como adaptação, no excelente trabalho feito para os jogos da franquia. Desde aspectos do combate de Geralt, até o “design” de elementos deste universo, aproveitando a coesão que já havia sido construída. Mas além de construções visuais e aspectos de interpretação para os personagens, a série também traz uma trilha sonora que evoca o trabalho do jogo, ainda que não possua muitos momentos de destaque perto do que se espera de grandes sequências épicas como se vê por aqui. 

The Witcher não tem exatamente a escala de espetáculo que precisaria para ser considerada a tal “nova Game of Thrones” (e acho que já está na hora de pararmos de tentar fazer tal comparação), mas nem por isso deixa de se destacar dentro do catálogo da Netflix como uma série digna de um público cativo, repleta de momentos empolgantes e visuais chamativos. Com uma segunda temporada já encomendada, o potencial da série, pelo menos, é bem animador.  

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