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O legado de Omar Sharif

Morreu hoje, em um hospital no Cairo (Egito), o ator Omar Sharif, aos 83 anos. O filho de Sharif revelou em maio deste ano que o ator sofria do Mal de Alzheimer, mas o que o matou foi um ataque cardíaco.

Fez 117 filmes para o cinema e a TV em sua carreira, sendo que seus trabalhos mais conhecidos são dois épicos do diretor britânico David Lean: Lawrence da Arábia (1962) e Doutor Jivago (1965). Foi o primeiro ator egípcio e muçulmano a ter fama e sucesso internacionais.

Omar Sharif nasceu em uma rica família de descendência sírio-libanesa e de religião católica com o nome de Michel Demitri Chalhoub, na cidade de Alexandria, em 10 de abril de 1932. Formou-se em física e matemática na Universidade do Cairo e, após a formatura, foi a Londres estudar arte dramática no Royal Academy of Dramatic Art. Iniciou sua carreira artística no seu país natal em 1953 – já utilizando seu nome artísitico – e, em 1955, casou-se com a prestigiosa atriz Faten Hamama (para isso converteu-se ao Islamismo), com quem fez vários filmes românticos. O casal divorciou-se em 1974 e Sharif não voltou a casar-se.

Em 1962, voltou a Londres e David Lean o chamou para trabalhar em Lawrence da Arábia, filme sobre o legendário militar inglês, que conquistou sete Oscars e mais uma indicação de melhor ator coadjuvante a Sharif que, por esse filme, conquistou o Globo de Ouro na mesma categoria e o de Melhor Novo Astro do Ano. Durante as filmagens conheceu o ator principal, o irlandês Peter O’Toole, que se tornou seu amigo íntimo. Uma curiosidade: O’Toole detestava tanto o nome artístico de Sharif (que, em árabe, significa “nobre”), que só o chamava de “Fred”.

Em 1965, voltou a trabalhar com David Lean em outro épico, Doutor Jivago, adaptação do romance do escritor russo Bóris Pasternak, que conquistou cinco Oscars e deu a Sharif mais um Globo de Ouro, desta vez o de melhor ator. Seguiram-se os sucessos A Noite dos Generais (1967) e Funny Girl, A Garota Genial (1968), no qual contracenou com a atriz e cantora estadunidense Barbra Streisand, com quem teve um relacionamento amoroso.

Esse relacionamento acabou trazendo a Sharif mais dores de cabeça do que ele pensava. Streisand era judia e apoiadora do Estado de Israel que, à época, estava em guerra com o Egito. O governo do General Gamal Abdel Nasser ficou furioso com esse rumoroso caso de amor de um egípcio com uma mulher de religião judaica e, devido a isso, Sharif por muito pouco não perdeu sua cidadania.

Nos anos seguintes, Sharif diminui o ritmo de filmagens. Nesse período destacam-se os filmes Funny Lady (1975, sequência de Funny Girl), A Nova Transa da Pantera Cor-de-Rosa (1976), Top Secret! – Superconfidencial (1984) e Memórias da Meia-Noite (1991), adaptação do romance do escritor estadunidense Sidney Sheldon.

Foi também nesse período que Sharif dedicou-se a uma de suas paixões: o Bridge, jogo de cartas no qual já esteve entre os 50 melhores jogadores do mundo, chegando a escrever vários livros sobre o assunto. Era um frequentador assíduo de cassinos e acabou por adquirir o vício do jogo, que abandonou alguns anos antes de morrer.

Sharif era também um grande apreciador de futebol. Era um fanático torcedor da pequena equipe inglesa Hull City F. C. Na Copa do Mundo de 1990, realizada na Itália, fez questão de ir aos estádios para torcer pela Seleção Egípcia de Futebol.

No século XXI realizou poucos filmes. Destes destaca-se o filme francês Uma Amizade Sem Fronteiras (2003), do diretor François Dupeyron (O Filho Preferido). Neste filme Sharif faz o papel de Ibrahim Deneji, um velho lojista turco residente em Paris e que se torna amigo do adolescente judeu Moses “Momo” Schimtt (o ator francês Pierre Boulanger). Por esse trabalho, Sharif conquistou o César (versão francesa do Oscar) de melhor ator além do prêmio de melhor ator no Festival de Veneza.

Em 2005, teve a honra de ser agraciado com a primeira medalha Serguei Eisenstein da UNESCO (organização das Nações Unidas para a Educação) em reconhecimento à sua contribuição para o cinema e à diversidade cultural.

Omar Sharif deixa um filme póstumo, o curta-metragem 1001 Inventions and The World of Ibn Al-Haytham, dirigido por Ahmed Salim, e que está em fase de pós-produção.

O cinema internacional perde mais um grande e carismático ator. Que descanse em paz.

Veja o trailer original de Doutor Jivago, com Omar Sharif:

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