Em 2002, Leonardo DiCaprio estava num momento decisivo de sua carreira. Seus cabelos loiros e profundos olhos azuis haviam conquistado corações adolescentes no mundo todo no final choroso de Titanic, em 1997. A bilheteria sem precedentes do filme de James Cameron transformou DiCaprio em um dos maiores astros do cinema, mas também o transformou em um prisioneiro do seu próprio sucesso, perseguido por paparazzi e chamando a atenção mais por seus casos com supermodelos do que por suas performances.
Não ajudou que seus dois principais papeis pós-Titanic tenham sido em A Praia e O Homem da Máscara de Ferro, ambos recebidos friamente pela crítica e com pouco sucesso comercial. Percebendo isso – em uma entrevista, Leonardo DiCaprio chegou a dizer que sua “existência pós-Titanic estava sendo bastante vazia” – ele mudou bruscamente de direção e se aliou a Martin Scorsese e Steven Spielberg para Gangues de Nova York e Prenda-me Se For Capaz, papeis de tons bem diferentes que terminaram o debate sobre suas capacidade interpretativas.
Na década seguinte, DiCaprio não mudou sua abordagem, escolhendo projetos com Christopher Nolan (A Origem), Baz Luhrmann (O Grande Gatsby), Quentin Tarantino (Django Livre) e Edward Zwick (Diamante de Sangue), além das repetidas parcerias com Scorsese. A recompensa foi ganhar o status de um dos astros com retorno comercial mais consistente em Hollywood, o que é ainda mais difícil nos tempos atuais do que era anteriormente, quando Hollywood vivia no star-system.
Seu filme mais recente, O Regresso, teve uma estreia espetacular nos EUA com US$ 38 milhões, mesmo com sua trama e estilo nada típico de grandes sucessos comerciais de Hollywood. “A cada filme que ele faz ele se torna cada vez mais o astro mais bancável do planeta”, decretou Paul Dergarabedian, um analista de mídia americano. “Muitos astros de cinema hoje em dia não conseguem emplacar filmes fora de franquias, mas ele consegue emplacar qualquer tipo de filme”.
O mais notável é que Leonardo DiCaprio fez isso com filmes que, assim como O Regresso, não se encaixam no padrão dos blockbusters que estamos acostumados a ver hoje em dia. A não ser pelo épico de ficção científica (ainda que cerebral) A Origem, nenhum de seus filmes recentes provavelmente teria o sucesso de bilheteria que teve sem a presença de Leo no elenco.
Sobre O Regresso, o chefão de distribuição da Fox, Chris Aronson, confessou: “Esse foi um filme incrivelmente difícil de vender. DiCaprio esteve em muitos filmes de qualidade, mas se você entrar nesse cegamente, sem saber do que se trata, você não iria concluir que esse é um dos seus mais comerciais – mas vai acabar sendo”.
Numa pesquisa feita com os espectadores do primeiro fim de semana de O Regresso nos cinemas, 31% deles clamaram ter comprado o ingresso por conta do nome de Leonardo DiCaprio. Não é a toa que a face barbada e machucada do ator está em destaque no pôster – a maioria dos filmes provavelmente teria 3 ou 4% dos espectadores citando o ator principal como a razão pela qual os espectadores foram ao cinema.
“Olhe para os elementos envolvidos”, explica Aronson. “Você pega uma performance marcante de Leo DiCaprio, junta com a visão ousada e ambiciosa de Alejandro. Você tem um diretor inovador e um ótimo ator, e esse é um pacote que o público está disposto a comprar”.
Como as recentes vitórias de O Regresso, do diretor Alejandro Iñárritu e DiCaprio no Globo de Ouro e SAG mostraram, a fórmula funcionou bem para o filme, tanto criticamente quanto comercialmente. Nos dias de hoje, quando essas duas coisas se alinham sempre é motivo para comemorar.
O longa foi indicado a 12 Oscars, inclusive de melhor ator para Leonardo DiCaprio, que finalmente pode ganhar a cobiçada estatueta dourada pela primeira vez no próximo dia 28.