Devo dizer que estou surpreso por estar escrevendo esse artigo. Se havia um filme de 2019 que eu realmente não esperava nenhuma reação polêmica, especialmente envolvendo múltiplas ideologias e visões políticas, certamente era Rambo: Até o Fim – filme que marca a última (?) aparição de Sylvester Stallone na pele de um de seus personagens mais icônicos. Mas é justamente isso que aconteceu nos últimos dias.
Na noite de quarta-feira (17), o embargo de críticas do filme foi finalmente liberado, e a recepção foi bem negativa em sua maior parte. Falando em um nível pessoal, eu achei o novo filme quase insuportável, e completamente pedestre (quase amador) em quesitos cinematográficos, tanto que – se não fosse um filme com John Rambo – eu poderia jurar que seu destino seria as prateleiras de uma locadora, porque é um filme todo pensado para o home video no começo dos anos 2000. Mas é outro problema que vem causando burburinho.
Alguns críticos acusaram Rambo: Até o Fim de ser “ideologicamente perigoso”. Afinal, temos um filme lançado em 2019 que traz mexicanos como vilões extremamente caricatos e unidimensionais, algo no mínimo delicado de se fazer levando em conta as polêmicas do governo americano atual. Independente da minha visão pessoal, esse não deve ser o ponto para análise de uma crítica cinematográfica, e também não pode render uma generalização absurda: Não gostar de Rambo 5 “é coisa de esquerdista, Social Justice Warrior e geração mimimi” foram algumas das reações que vi pela internet nas últimas horas. Isso não faz o menor sentido.
Há também um claro defeito com a crítica, isso não deve ser ofuscado. Vi por aí artigos apontando especificamente como Até o Fim ataca o “politicamente correto”, e isso é algo que a franquia nunca teve preocupação. Com exceção do primeiro filme, que é um drama e uma análise poderosa do estresse pós-traumático causado pela guerra, todos as demais continuações foram focadas em ação, e nunca se preocuparam em retratar a realidade. Rambo III está bem aí para provar isso, sejamos sinceros.
Novelão mexicano
Um ponto duramente criticado foi a violência do filme. Mas, convenhamos, é o único elogio que eu poderia aqui (além do carisma sempre presente de Stallone). A violência sempre fez parte da franquia Rambo, e Até o Fim nem chega a ser o mais grotesco. Rambo IV é infinitamente mais violento e gore do que o quinto filme, que só deixa ação para seus minutos finais. O difícil é chegar até lá, já que temos uma verdadeira novela mexicana de subtramas estúpidas (eu quero ver alguém tentar defender a historinha da menina indo atrás do pai) e péssimas, péssimas atuações.
Rambo: Até o Fim é mal escrito, mal filmado e que descaracteriza o personagem de Stallone. É apenas uma aventura genérica e que parece mais uma cópia de Busca Implacável do que uma tentativa de aposentar o personagem titular. Talvez o maior absurdo que eu tenha lido foram as comparações com Logan e Os Imperdoáveis, rotulando o filme como um faroeste. Ter um rancho, cavalos e chapéu não transforma seu filme em um faroeste…
Então fica aí o aviso: filmes não devem se tornar bandeiras de ideologias, ou “mártires” de uma visão política específica; independente de qual seja. Não confundam as coisas, Rambo: Até o Fim não merece ser criticado por qualquer ideologia que as pessoas possam encontrar ali. É um filme ruim, em termos de cinema.
Você sabia que a Disney rejeitou uma série de Stallone com Dolph Lundgren por não ter foco feminino? E que o astro das franquias Rocky e Rambo queria ver Stallone: Cobra virar uma série? Saiba isso e muito mais no Observatório de Séries.