A 5ª temporada de Black Mirror já está disponível na Netflix com três novos episódios. Um deles, intitulado “Striking Vipers” tem dois protagonistas LGBTQ+, o que faz com que o episódio se torne o segundo de Black Mirror, depois de “San Junipero” a explorar relacionamentos homossexuais de maneira profunda. O grande problema aqui é o fato de que Black Mirror falhou em representar bem a comunidade LGBTQ+ nas duas tentativas.
Em um artigo, o Digital Spy discutiu a maneira problemática em que o episódio “Striking Vipers” explora os personagens LGBTQ+.
Amor virtual
Black Mirror tem uma tremenda dificuldade em lidar com seus personagens homossexuais. A série é bem sucedida quando inclui esses personagens na história, dá o devido protagonismo à eles e os desenvolve de maneira consistente, mas a grande falha da série está no fechamento dessas histórias, que passa uma mensagem muito negativa tanto em “San Junipero” quanto em “Striking Vipers”.
Em “Striking Vipers”, Danny e Karl são dois amigos que acabam se apaixonando quando jogam videogame juntos, vivenciando experiências sexuais dentro do mundo virtual. O conceito é bem parecido com o de “San Junipero” e é igualmente problemático. Inconscientemente, Black Mirror diz aqui que o amor entre personagens LGBTQ+ só pode ser vivido em mundos virtuais, ou seja, de uma maneira que não “atrapalha” ou “interfere” na vida das pessoas do mundo real, o que é uma mensagem bem errada de se passar (mesmo que sem querer) em pleno 2019.
Em “San Junipero”, um dos episódios mais amados de Black Mirror, algo extremamente parecido acontece, já que as personagens só podem viver seu amor plenamente quando estão distantes da realidade, deixando o mundo real de maneira definitiva e vivendo para sempre em uma realidade virtual.
Outra forma de isolar o relacionamento de Danny e Karl da realidade é a maneira em que o episódio lida com a relação do primeiro com sua esposa Theo. Ao final de “Striking Vipers”, o diretor simplesmente opta por cortar a cena em que Danny revela seus sentimentos por Karl para sua esposa. Essa cena poderia salvar o episódio, trazendo a relação dos dois para o mundo real de um jeito palpável, mas ao invés disso Black Mirror reforça mais uma vez essa ideia de que pessoas LGBTQ+ só podem ser felizes quando escapam da realidade.
Em 23 episódios, Black Mirror deu enfoque para personagens LGBTQ+ em apenas 2, escolhendo uma abordagem problemática em ambos os episódios. Se a série quer realmente ser inclusiva e olhar para o futuro, seus realizadores vão precisar fazer muito melhor do que o que tem sido feito.
Todas as temporadas de Black Mirror estão disponíveis na Netflix.