É padrão comum entre cinéfilos comentando certos atores e atrizes que consideram ruins, ouvirmos quase que uma unanimidade gritante quando alguém do grupo cita o nome de Ben Affleck. Nessa hora, parece não haver guerras e conflitos políticos acontecendo no mundo, pois “todos” concordam que o ator americano de 49 anos de idade faz parte daquele grupo de profissionais das artes cênicas que poucos se dão o esforço de prezar.
Bom, para esta galera considerada ‘hater’, seria interessante assistirem dois trabalhos bem mais recentes dele, no caso, O Caminho de Volta (2020) de Gavin O’Connor, além da mais nova estreia da plataforma Amazon Prime Video, Bar Doce Lar, dirigido pelo também mundialmente famoso ator de cinema George Clooney.
Certeza que tantos irão contestar dizendo que Ben Affleck tem uma lista de fracassos e performances (realmente) sofríveis na carreira. Verdade. Ele tem mesmo!
Dentre alguns destes filmes que gostaríamos de ouvir uma explicação, temos: Pearl Harbor (2001); Demolidor – O Homem sem Medo (2003); Contato de Risco (2003); O Pagamento (2003); Sobrevivendo ao Natal (2004); Menina dos Olhos (2004); A Última Cartada (2006) e mais alguns poucos deméritos.
Porém, o ator que protagonizou sua primeira produção cinematográfica com Tempo de Mudança (1995), logo alcançando status de estrelato após levar um Oscar de Melhor Roteiro Original junto do amigo Matt Damon pela obra Gênio Indomável (1997), começou a trilhar novos rumos profissionais quando assumiu a posição de cineasta.
Sua estreia como diretor em Medo da Verdade (2007), assim como nas duas produções seguintes, Atração Perigosa (2010) e Argo (2012), foram bem-sucedidas. O último inclusive levou o Oscar de Melhor Filme daquele ano.
Todo esse amadurecimento harmonizou bem no novo Bar Doce Lar, que conta a história de J.R. (Tye Sheridan), um garoto que cresceu à luz de um bar onde o dono, seu tio Charlie (Ben Affleck), é o mais nítido e colorido de uma variedade de figuras paternas peculiares. Enquanto a mãe determinada do menino (Lily Rabe) luta para dar ao filho oportunidades que ela nunca teve – e deixar a casa dilapidada de seu pai ultrajante, embora relutantemente favorável (Christopher Lloyd) – J.R. começa a corajosamente, se não sempre graciosamente, perseguir seus sonhos românticos e profissionais. Sempre com um pé no bar do tio Charlie, claro.
Amadurecimento protocolar
A produção original da Amazon Prime Video representa a oitava entrada de George Clooney como diretor de cinema. O ator hollywoodiano começou muito bem essa tal de aventura de dirigir filmes, estreando com Confissões de uma Mente Perigosa (2002), obra que apresentou um dos melhores trabalhos da carreira de Sam Rockwell.
Com o passar dos anos, tivemos mais algumas obras dirigidas por Clooney que dispunham de consideráveis predicados, como Boa Noite e Boa Sorte (2005) e Tudo pelo Poder (2011). Só que o último acabou se mostrando o que de mais qualificado tivemos pelas mãos dele nos últimos dez anos, uma vez que os lançamentos da última década foram filmes bem questionáveis. São eles: Caçadores de Obras-Primas (2014), Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso (2017) e O Céu da Meia-Noite (2020).
Agora, temos através de Bar Doce Lar aquela que se revelou como a melhor narrativa delineada por George Clooney em dez anos, no entanto, isso não significou grande coisa, já que o longa-metragem da Amazon Prime Video protagonizado pelo jovem Tye Sheridan é daquelas histórias sobre amadurecimento bem convencionais em sua forma narrativa. Super protocolar mesmo!
Os assinantes observarão que aqui não temos nada de diferente, tudo já foi visto antes. Provavelmente de modo mais inspirado também. Mesmo assim, George Clooney merece um elogio por não tornar algo facilmente relacionável em uma narrativa sentimentalista. Só isso já foi um alívio!
Tal estrutura quadradinha foi o espaço que Ben Affleck precisava para demonstrar mais uma vez que ele é, sim, um ator capaz de surpreender. Em Bar Doce Lar testemunhamos algo espiritualmente naturalista em sua performance, que ainda entrega por minúcias faciais, algumas nuances muito bem-vindas, que estabelecem contorno e profundidade para o personagem do ‘tio maneiro’.
A dificuldade para não repetirmos nossos pais
George Clooney quis tratar duas coisas nessa produção: primeiro, como facilmente reprisamos alguns padrões de nossos pais que geralmente só atrapalham nossa caminhada em busca de autonomia; e segundo, como alguns meios considerados por uma classe elitista como modelos de baixo nível, na realidade representam passos importantíssimos na evolução emocional e intelectual de qualquer ser.
Pelo protagonista J.R. notamos uma dependência (que adora negar) da presença de seu pai na sua vida. Para ele, seu procriador que é locutor de rádio representa a voz que habita seu inconsciente, sempre segurando-o no passado, por mais que ele esteja seguindo em frente com seus estudos e vida social.
Isso acaba também prejudicando sua vida amorosa, onde temos uma garota que gosta dele verdadeiramente, mas não assume o relacionamento, sabendo que ele tem coisas internas a resolver antes. Em resposta: testemunhamos J.R. repetidamente insistir na garota, mesmo quando ela já disse claramente que não serão os dois juntos; essa persistência do protagonista é um reflexo daquilo que sempre quis praticar com seu desconsiderável pai.
Também percebemos Clooney explorar a importância do que tantos chamam de ‘filosofia de bar’. Para o cineasta americano existe tanto valor dentro de um boteco, quanto nos sistemas educacionais acadêmicos, inclusive aquelas universidades consideradas bem renomadas.
Em vista que filosofia é uma forma de amor pelo conhecimento autoconsciente e externo, naturalmente, não existem barreiras que impeçam esta atração de fluir em qualquer cenário, estabelecendo de uma vez por todas que na vida aprendemos com o copo vazio ou cheio.