Existe um argumento analítico que diz sobre uma história que tenta trabalhar duas ou mais narrativas diferentes dentro de um só filme, tendo que escolher qual prefere contar, pois alguns pensam que não é possível em boa parte dos casos, juntar alguns elementos de forma harmoniosa, assim, melhor escolher apenas um caminho, para supostamente valorizar mais algumas destas ideias que são parte de um conceito geral.
Bom, antes de tudo, é necessário que se afirme e incentive tal proposta de buscar transcorrer diferentes narrativas como parte de uma história, uma vez que filmes ou séries que exploram este território apresentam boas chances de marcar o espectador que geralmente não está preparado para aquilo que virá, instigando-o a refletir sobre tudo o que está vendo e como tudo pode estar interligado daquela maneira.
Portanto, é mais do que possível transmitir ideias distintas de modo organizado, onde possamos perceber e sentir aquilo que está sendo contado, como por exemplo, a série original da Netflix Missa da Meia-Noite. Para se ter algum sucesso nisso, é imprescindível dispor todos os elementos de uma maneira onde seja funcional identificá-los na história, enquanto intercala estes de uma forma mais sugestiva do que objetiva, fazendo com que o público vá desdobrando as partes para chegar no centro do que foi proposto.
É uma pena que Encontros da Amazon Prime Video não foi capaz de dar conta de tudo o que almejava transmitir. E, é bom que se diga que miraram bem alto!
Malik Khan (Riz Ahmed), um fuzileiro naval condecorado, parte em uma missão de resgate para salvar seus dois filhos de uma misteriosa ameaça alienígena. À medida que sua jornada os leva em direções cada vez mais perigosas, os meninos precisarão deixar sua infância para trás, em uma viagem de carro pelo país que irá alterar seus destinos para sempre.
Narrativas em desarmonia
Provavelmente, considerável parte dos assinantes da plataforma da Amazon Prime Video irão se sentir traídos ao assistirem Encontros de Michael Pearce. É razoável cogitar isto já que a porção sci-fi (ficção científica) da história, que inicia a trama, se resume (aproximadamente) no quadragésimo minuto. Dali para frente, teremos um segundo filme em Encontros, que poderia muito bem se camuflar junto do primeiro, porém falha em harmonizar ambas propostas narrativas, deixando uma sensação de incompletude pairando quando surgem os primeiros nomes dos créditos finais.
No começo temos um enredo que indica uma produção de gênero super instigante que mistura a chegada de um cometa em nosso planeta, junto de insetos terrestres que espalham um tipo de parasita alienígena que veio dentro do corpo celeste que nos atingiu. Estes perigosos parasitas transformam nosso comportamento, tornando-nos mais agressivos uns com os outros.
Mas com o avançar do enredo, somos expostos à uma nova proposta narrativa que foca no pai dos meninos, um homem que viveu o inferno durante à guerra e que apresenta algumas sequelas consideráveis em seu comportamento pelas experiências violentas testemunhadas.
Deu para perceber, já?!
Sim, no tal “segundo filme” que habita Encontros, analisamos uma orientação que inclina a narrativa para os traumas de guerra que transformam homens e mulheres em párias incapazes de manter um convívio social aceitável.
O escritor e diretor Michael Pearce, junto do roteirista Joe Barton, ainda propuseram mais nesta obra original da Amazon Prime Video, em vista que também desenvolveram esta progressão narrativa como parte de um ‘road movie’ (filmes de estrada) que destacou o amadurecimento (coming of age) do garoto mais velho de Malik Khan.
Sorte grande que o elenco encabeçado pelo talentoso Riz Ahmed (O Abutre; Venom; O Som do Silêncio) entrega performances do tipo naturalista, porém muito convincentes acima de tudo, fazendo dessa experimentação um pouquinho mais aproveitável, apesar da confusão estabelecida pelo texto da dupla Pearce/Barton.
Ao lado de Ahmed encontramos dois atores mirins que prometem boas coisas lá na frente, já que não se intimidaram diante um profissional de nome e respeito na frente deles.
Em Encontros não faltou audácia por parte de Michael Pearce, mas faltou uma conscientização mais regulada para dar conta de uma história tão complexa.