Sobre Minorias

Crítica – Madres: Mães de Ninguém

Penúltimo longa-metragem do projeto Welcome to the Blumhouse é menos terror que anteriores, mas argumenta convicto contra o racismo na América

Estamos nos aproximando do fim de Welcome to the Blumhouse, série de filmes que consiste em histórias de terror e suspense antológicas desenvolvidas e produzidas pela Blumhouse Productions para o Amazon Prime Video.

Foram lançados quatro longas-metragens em outubro de 2020, e agora, mais quatro em outubro deste ano. As obras de 2021 têm suas histórias focadas em horrores institucionais e fobias pessoais.

Exemplos: em O Bingo Macabro, primeira produção desta nova leva, observamos uma irreverente e sanguinolenta denúncia contra o capitalismo na América; enquanto Negra Como a Noite comenta o abandono das instituições governamentais pós-Katrina na icônica cidade de Nova Orleans, além das angústias internas decorrentes do colorismo.

Agora, continuamos a discutir outros horrores institucionais que resistem até os dias atuais, lamentavelmente. O penúltimo projeto da Welcome to the Blumhouse intitulado Madres: Mães de Ninguém nos apresentam Beto (Tenoch Huerta) e Diana (Ariana Guerra), jovem casal mexicano-americano que espera seu primeiro filho, que mudam-se para uma pequena cidade na Califórnia na década de 1970, onde Beto recebeu uma oferta de emprego como gerente de uma fazenda. Isolada da comunidade e atormentada por pesadelos confusos, Diana explora a casa cedida pela empresa onde eles residem, encontrando um talismã e uma caixa contendo os pertences dos moradores anteriores. Suas descobertas a levarão a uma verdade muito mais estranha e assustadora do que ela poderia ter imaginado.

Menos terror, mais drama social

Esta obra dirigida por Ryan Zaragoza pega um caminho muito similar a outros lançamentos deste ano, no caso: Vozes e Vultos da Netflix, e A Chorona, que estreou recentemente nas salas de cinema.

Existe sim, uma manifestação sobrenatural em cada uma destas produções, porém esta serve para desmistificar aquilo que nos acostumamos quando rondamos o campo do gênero terror/suspense. E, faz isso, ao mesmo tempo que busca elevar o aspecto de sororidade entre mulheres.

Consequentemente, isto retira um tanto da climática assustadora do material, colocando no lugar uma iniciativa pela reflexão da razão daqueles acontecimentos terem ocorrido. Mas, não se enganem, já que os fatos verídicos são o real terror que almeja destruir estas vidas em destaque.

No centro de Madres: Mães de Ninguém da Amazon Prime Video testemunhamos, tristemente, que nos últimos cinquenta e tantos anos, pouco mudou na relação de trato com as mulheres que se encontram em classes mais baixas da sociedade. Ainda não confrontamos o suficiente para que suas vozes tenham a validade legalmente merecida.

Aqui no Brasil, também representamos diariamente o destrato com a mulher de baixa renda. Só perceber a atitude do mandatário da nação que vetou a distribuição gratuita de absorventes para estudantes do ensino público e mulheres em situação de rua. Algo que, assim como o feijão na mesa, é elemento essencial na vida de tantos cidadãos necessitados pelo país.

O racismo antes do conceito de murar

Muito antes do ex-presidente americano Donald Trump vir com as ideias de um grande muro entre Estados Unidos e México, já existia uma situação que colocava os cidadãos americanos em oposição aos imigrantes latinos que cruzavam a fronteira, em acordo com a lei ou ilegalmente.

Em Madres: Mães de Ninguém vamos direto na gênese do problema que é o racismo contra hispânicos e latino-americanos na América.

Recentemente, em 3 de agosto de 2019, um tiroteio em massa ocorreu em uma loja em El Paso, no estado do Texas. Um atirador atirou e matou 23 pessoas e feriu outras 23. Durante seu primeiro interrogatório, ele disse aos investigadores que tinha como alvo os mexicanos, de acordo com o depoimento do mandado de prisão. O tiroteio foi descrito como o ataque mais mortal contra os latinos na história americana moderna.

Tais eventos aconteceram pouco mais de dois anos atrás, entregando que ainda nos encontramos em um cenário de terror, onde isso possa acontecer novamente, independente da mudança de gabinete que ocorreu no início deste ano.

Em todo o mundo, conseguimos ver claramente as marcas do racismo na sociedade, portanto, devemos exaltar a relevância desta obra original da Amazon Prime Video por nos trazer uma realidade que possivelmente tantos de nós desconhecemos, ou pior, viramos a cara para não ver.

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