Continuando a lista de lançamentos da Welcome to the Blumhouse, série de filmes que consiste em histórias de terror e suspense antológicas desenvolvidas e produzidas pela Blumhouse Productions em parceria com a Amazon Prime Video, temos Negra Como a Noite, que oferece ainda mais entretenimento que O Bingo Macabro, quinta produção do programa.
Mais: já que explora a cultura com dados e emoção honesta, e de como se encontra atualmente a icônica cidade de Nova Orleans, principalmente após a tragédia no começo do século.
Aqui, seguiremos a proposta de comentar sobre horrores institucionais e fobias pessoais. Desta maneira, Negra Como a Noite nos situa quinze anos depois que o furacão Katrina devastou Nova Orleans. Agora, uma nova ameaça deixa marcas na forma de perfurações na garganta da vulnerável população que vive à margem da cidade. Quando sua mãe viciada em drogas se torna a última vítima dos vampiros, Shawna (Asjha Cooper) de 15 anos, promete vingar sua mãe. Junto com três amigos de confiança, Shawna trama um plano ousado para se infiltrar na mansão do vampiro no histórico Bairro Francês, destruir seu líder e transformar seus discípulos com presas de volta em sua forma humana. Mas, matar monstros não é uma tarefa fácil, e logo Shawna e sua gangue se encontram em um conflito de séculos entre facções de vampiros em guerra, cada uma lutando por uma filosofia diferente.
Bom entretenimento + cultura + emoção
Se existe algo absolutamente incrível desse projeto assinado pelo visionário Jason Blum, é o fato de que ele proporciona a possibilidade do surgimento de novos nomes a trilhar o gênero do terror por anos a fio.
Abrindo (ainda) mais espaço para algumas cineastas femininas, que se mostram apaixonadas por esse gênero cinematográfico que atende o gosto de considerável parte da população mundial. Assim, como O Bingo Macabro, dirigido por Gigi Saul Guerrero, o longa Negra Como a Noite, também tem a direção feminina no comando, no caso, a diretora Maritte Lee Go.
Ambas se saíram muito bem, cada uma com sua história, mas vale dizer que Maritte Lee Go pôs em prática algo um pouco mais especial, em vista que temos através dessa narrativa valoroso entretenimento associado à ideia de educar culturalmente o assinante da Amazon Prime Video. E, fez tudo isso com o coração nas mãos!
Negra Como a Noite trata de alguns assuntos de baixo do guarda-chuva do preconceito social e racial, especialmente na América. Quando Jordan Peele lançou o competente Corra! em 2017, obra que comentava uma falsa mudança nos Estados Unidos durante a era presidida por Barack Obama, abriu-se um espaço essencial para que continuássemos de olho no que ainda acontecia na sociedade.
Naqueles tempos, acreditavam que tudo iria melhorar, já que tínhamos um presidente homem negro sentado na cadeira mais poderosa do governo americano. Bom, bem óbvio que isto não aconteceu. Basta lembrar o que fizeram com George Floyd em maio de 2020.
Pela visão de Maritte Lee Go, observamos os mesmos problemas com o foco voltado aos acontecimentos em Nova Orleans pós-Katrina, que teve a população de classe baixa deslocada de sua vida e origens na reconstrução da cidade. E, quando falamos a palavra ‘vida’, englobamos tudo, inclusive a manutenção da saúde mental daqueles que perderam tanto, ou mesmo tudo quando o furacão categoria 5 atingiu toda a região, matando mais de 1800 pessoas.
Sobre colorismo
O que é colorismo?
É um termo utilizado para diferenciar várias tonalidades da pele negra, do tom mais claro ao tom mais escuro. Essas tonalidades da pele negra também permitem a inclusão ou a exclusão na sociedade.
Na contemporaneidade, esse tipo de classificação pode facilitar a vida de quem tem a pele mais clara e dificultar o dia a dia de quem tem a pele mais escura. Por exemplo: uma pessoa negra com a tonalidade da pele mais clara, tem uma “certa” aceitação na sociedade. Ela pode conseguir emprego mais fácil por ter a pigmentação da pele mais próxima da etnia branca.
Assim, o colorismo sempre tenta diferenciar as tonalidades da pele, como se isso tornasse o indivíduo menos negro, mais semelhante ao branco. Consequentemente, a sociedade cria válvulas para que o preconceito continue presente nos espaços sociais como: trabalho, locais de lazer e escolas. Provocando insegurança, instabilidade e falta de identidade e pertencimento à cultura.
Em Negra Como a Noite da Amazon Prime Video, testemunhamos a jovem protagonista Shawna, interpretada pela talentosa Asjha Cooper, mostrar todos estes sintomas do colorismo. Mas também, acompanhamos o momento do despertar dela, que veio por fatores externos de duas formas: primeiro, pelos antepassados que cultuavam e exaltavam à beleza e poder da mulher negra; e segundo, quando as pessoas à volta pararam de olhar e apontar o dedo para estas características como se fossem algum tipo de desvantagem.
Por Maritte Lee Go e tantos(as) outros(as), podemos começar a praticar mais esta última parte.