Por: Fernando Berenguel
Se você digitar as palavras “crise” e “Hollywood” no Google, vai receber como resultado uma enxurrada de notícias de sites e grandes portais avaliando a crise criativa que se abateu sobre os estúdios americanos na última década. Tudo por causa de uma Hollywood que nos últimos anos entrou numa confortável espiral apoiada nas muletas de sequências, reboots e remakes. E muitas vezes, é claro, apostando em roteiro tão manjados quanto os “booms” onomatopeicos do próximo filme do diretor Michael Bay.
A quantidade de questionáveis adaptações de livros, HQs, histórias de super-heróis e até filmes que muita gente duvidava que tivesse fôlego para ganhar uma sequência já são uma trilogia, quadrilogia, pentalogia e vão além disso.
Outro fato que pode desanimar os fãs da 7ª arte: grandes do cinema estão indo para a televisão. Ou para a internet se pensarmos em Hulu, Amazon, Netflix e nas próximas plataformas on demand que estão surgindo e surgirão. A repercussão positiva de Kevin Spacey a frente da websérie House Of Cards (primeira produção de sucesso de Netflix) há quase cinco anos atrás foi só uma faísca para uma discussão que continua bastante quente: nunca houve tantos vencedores do Oscar de fora do cinema.
Nicole Kidman, Jane Fonda e Anthony Hopkins são alguns dos nomes que atualmente podem ser vistos em séries de TV, todos com novas temporadas já confirmadas pelos produtores. Em breve a lista ainda contará com os tarimbados nomes de Julia Roberts e também da dupla Robert De Niro e Julianne Moore que receberá salários de pelo menos cinco dígitos para fazer uma série para a Amazon.
Emma Stone, a atual vencedora do Oscar por La La Land também vai para o “terceiro écran”: a atriz estará ao lado da veterana do Oscar, Sally Field em Maniac, nova comédia para a web da Netflix sobre duas amigas que vivem em um universo paralelo quando na verdade estão presas em uma instituição psiquiátrica.
A maior recordista em indicações ao Oscar (ao todo foram vinte), também já está de malas prontas para sua estreia na televisão: Meyrl Streep ganhará 825 mil dólares por episódio em uma série do J.J. Abrams que ainda nem canal confirmado tem.
E não é só no campo da atuação que a fuga do cinema vem acontecendo: grandes nome por trás da câmera também vem migrando pra TV. Cada vez mais diretores consagrados e roteiristas do cinema vêm contribuindo para um aumento da qualidade técnica das produções dramatúrgicas na TV.
Spielberg, David Fincher, Scorcese e Bong Joon-Ho são algumas das grandes mentes criativas que nos últimos anos passaram a apostar em conteúdo televisivo. Este último, o diretor sul-coreano Bong Joon-Ho, ainda viu seu último filme produzido pela Netflix, o drama OKJA, ser alvo de uma polêmica no último festival de Cannes: o júri presidido por um “Almodóvar conservador” criticou o fato da produção estar em competição mas não poder ser assistido nas telas do cinema.
Já no Brasil, esta bola parece que já foi cantada e durante 14 anos pela sitcom A Grande Família. Qual a razão de se pagar por ingressos de cinema que dão direito a comédias nacionais sem graça quando se tinha toda quinta-feira de graça um roteiro e uma direção bem superiores ao que podia se ver nas telas de cinema?
“A TV hoje é mais interessante do que o cinema” foi a manchete de uma entrevista de alguns anos atrás de Fernando Meirelles ao jornal Folha de São Paulo. A sua produtora, cabe lembrar, foi cinco vezes indicada ao Oscar e isto não parece ter impedido a empresa de enveredar-se pelas telas da TV. A equipe do cineasta, que parou a internet em 2015 com uma cena do derrière de Paola Oliveira em Felizes Para Sempre neste ano será co-produtora do próximo filme de Meirelles: The Pope, que narrará a passagem de papado entre os Papas Bento XVI e Francisco com os personagens sendo interpretados respectivamente por Anthony Hopkins e Jonathan Pryce. Este último, vale lembrar interpretou o religioso Alto Pardal em Game Of Thrones em meio a diversos comentários na internet por sua semelhança física com o Papa Francisco.
E falando nela, o canal HBO que é considerado o percussor nesta retomada técnica do audiosivual televisivo, anunciou recentemente que encerrará Game of Thrones, somente em 2019. Pensando nos recordes de audiência que a série bateu nas últimas temporadas, não é difícil concluir que este hiato de quase dois anos muito provavelmente colocará os seis últimos episódios da série entre as obras audiovisuais mais assistidas da história.
E mesmo sem ter exibido sua apoteose, em relação à qualidade técnica a série já é vitoriosa: nos quesitos técnicos o seriado medieval venceu 38 vezes o Emmy, sendo considerada a produção que mais acumula vitórias na história da premiação.
A história que usa a fantasia medieval para divulgar a arquetípica questão de disputa pelo poder, é recheada por um conteúdo sexual bastante picante que vem sendo uma das marcas da HBO nesta chamada “nova era de ouro da televisão”. E é parafraseando o título da série que fecho o texto:
Quem continuará detendo a majestade para poder sentar-se no trono do audiovisual? O cinema, a televisão ou a internet?