Ocasionalmente nos deparamos com um daqueles filmes em que cada plano poderia ser enquadrado e colocado na parede. Retrato de uma Jovem em Chamas, disponível no Prime Video, é uma dessas obras de arte.
Dirigido por Céline Sciamma, o longa-metragem conta a história de um amor proibido e intenso entre duas mulheres na França do século XVIII.
Sciamma, conhecida por sua abordagem sensível e meticulosa aos temas LGBTQ+, cria uma narrativa que é ao mesmo tempo uma meditação sobre arte, amor e a luta pela liberdade em um mundo opressivo.
Retrato de uma Jovem em Chamas se passa em uma ilha isolada na Bretanha, onde Marianne (Noémie Merlant), uma jovem pintora, é contratada para pintar o retrato de Héloïse (Adèle Haenel), uma jovem mulher que recentemente saiu do convento.
Héloïse está prometida em casamento a um homem em Milão, mas recusa-se a posar para o retrato que será enviado ao seu futuro marido. Marianne deve pintar Héloïse sem o seu conhecimento, observando-a durante o dia e pintando em segredo à noite.
O relacionamento entre Marianne e Héloïse começa de forma tensa, mas lentamente se transforma em uma amizade profunda e, eventualmente, em um romance apaixonado. A tensão entre elas é palpável desde o início, com Marianne tentando capturar a essência de Héloïse sem que esta saiba. À medida que Héloïse percebe a verdadeira intenção de Marianne, ela se sente traída, mas ao mesmo tempo atraída pela intensidade do olhar da pintora.
Mais sobre Retrato de uma Jovem em Chamas
Um dos temas centrais do filme é a relação entre observador e observado. Sciamma explora como o ato de olhar pode ser tanto uma forma de controle quanto de libertação. Marianne, ao pintar Héloïse, não está apenas capturando sua imagem, mas também sua alma e seus sentimentos mais profundos. Por outro lado, Héloïse, ao ser observada, começa a ver a si mesma de uma maneira nova e poderosa.
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A fotografia de Claire Mathon é um dos pontos altos do filme, utilizando a luz natural para criar um ambiente íntimo e quase etéreo. As cenas são cuidadosamente compostas, lembrando frequentemente pinturas clássicas. A ilha da Bretanha, com suas paisagens austeras e o mar revolto, serve como um pano de fundo perfeito para a história de amor e perda que se desenrola.
O filme também aborda o tema da arte feminina e a forma como as mulheres artistas foram historicamente marginalizadas. Marianne é uma pintora talentosa, mas precisa trabalhar sob o nome de seu pai para ser reconhecida. Sua luta por reconhecimento e a oportunidade de pintar Héloïse é um reflexo das dificuldades enfrentadas por mulheres artistas ao longo dos séculos.
Além do romance entre Marianne e Héloïse, há uma subtrama que envolve Sophie (Luàna Bajrami), a jovem criada da casa. Sophie enfrenta sua própria batalha quando descobre que está grávida e decide abortar. Marianne e Héloïse a ajudam, e essa experiência compartilhada fortalece ainda mais os laços entre as três mulheres, criando um senso de solidariedade e apoio mútuo.
Retrato de uma Jovem em Chamas é notável pela ausência de música incidental. Em vez disso, Sciamma utiliza o som ambiente – o vento, o mar, o crepitar do fogo – para criar uma atmosfera envolvente. A única música presente é a diegética, aquela que os personagens realmente ouvem, como quando Marianne e Héloïse assistem a uma apresentação de um coral feminino.
Retrato de uma Jovem em Chamas é um poderoso estudo sobre a paixão, a identidade e a liberdade individual. O filme pode ser apreciado por meio do Prime Video.
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