“This is a rebellion, isn’t it? I rebel” ( “Essa é uma rebelião, não é? Eu me rebelo”). A resposta perfeita de Jyn Erso (Felicity Jones) para a líder da resistência e ex-senadora da galáxia Mon Mothma (Genevieve O’Reilly), quando esta última a confronta sobre o seu comportamento violento e imprevisível, não é só um dos pedaços de diálogo mais legais que já vimos em trailers – é também uma espiada rápida e significativa na psique e na história da protagonista de Rogue One – Uma História Star Wars, filme derivado da série principal que deve chegar aos cinemas no dia 16 de Dezembro como parte de um plano da Disney e da Lucasfilm de lançar um filme por ano da franquia.
O que já sabíamos antes do lançamento do trailer era muito pouco, e não dá para fingir que os 2 minutos de cenas que vimos esclareceram muita coisa: Rogue One vai se passar entre os Episódios III (A Vingança dos Sith, 2005) e IV (Uma Nova Esperança, 1977) da série, começando a fazer a ponte entre a trilogia original e as pré-continuações que Lucas lançou no começo do século; a trama principal gira em torno de um grupo de rebeldes (e alguns caçadores de recompensas, de acordo com os boatos) a quem é dada a missão de roubar os planos da Estrela da Morte, parte fundamental da trama do Star Wars original.
Jones encarna a protagonista, e recebe o apoio de coadjuvantes de peso como Mads Mikkelsen (Hannibal), Alan Tudyk (Suburgatory), Donnie Yen (O Grande Mestre), Ben Mendelsohn (Bloodline), Forest Whitaker (O Último Rei da Escócia), Diego Luna (Elysium) e Riz Ahmed (O Abutre). Na direção, o talentoso Gareth Edwards procura consolidar sua carreira em Hollywood depois do filme-revelação Monstros e do seu bem-sucedido primeiro arrasa-quarteirões, Godzilla. No roteiro, Chris Weitz aproveita o voto de confiança que ganhou da Disney depois de Cinderela para trazer suas habilidades para a franquia.
Os boatos que davam conta da aparição de Darth Vader (ainda que só em holograma) e de Grand Moff Tarkin, interpretado na trilogia original pelo falecido Peter Cushing, continuam sendo só isso: boatos. O trailer nos mostra como possível vilão um oficial do Império vestido de branco, encarnado pelo já citado Ben Mendelsohn, e muitos fãs especulam que ele pode ser o pai da protagonista feita por Jones – no finalzinho do trailer, vemos Jyn Erso vestindo um uniforme com a insígnia imperial, o que pode significar que a personagem foi criada dentro do império e mais tarde se rebelou (Mon Mothma cita no começo que Erso está “sozinha desde os 15 anos”).
Fãs ainda acreditam que a conexão de Rogue One – Uma História Star Wars com a trilogia atualmente em produção é que Erso pode ser a mãe de Rey, a heroína de O Despertar da Força e dos futuros capítulos da série principal – como isso vai se elaborar no filme, se é que a teoria está certa, só o tempo dirá. As “revelações” do trailer de Rogue One sobre a trama, no entanto, empalidecem se comparadas ao quanto esses 2 minutos de cenas nos deram uma ideia de como pode ser o tom e os personagens do filme de Edwards.
O diretor anteriormente já deu dicas de que sua abordagem para o universo de Star Wars seria mais crua e buscaria o realismo fantástico ao invés do tom de ficção científica pulp que é o cerne da série principal. Esse clima fica muito claro no trailer, que reserva os efeitos especiais para as cenas de batalha e para um take belíssimo da Estrela da Morte sendo construída.
Elogiado pelos críticos por seu olhar muito humano de situações fantásticas, como ocorreu em Godzilla, Edwards filma as batalhas a partir do ponto de vista dos soldados, coloca a câmera no chão e mostra os colossais combatentes do Império frente aos soldados da Resistência com um senso de escala que ainda não vimos dentro do universo Star Wars.
Esse senso de realismo fantástico aparece também nos curtos takes que vemos de personagens isolados – o oficial do Império feito por Mendelsohn sozinho em uma sala gigantesca, cabeça baixa; a protagonista de Felicity Jones dentro de um carro, olhando meditativamente pela janela; Forest Whitaker aparecendo com o visual excêntrico do seu personagem e sua atuação intensa, iluminado por trás por uma abertura no que parece um túnel.
Essas tomadas carregadas de significado fazem par com o visual mais “sujo” das bases da Aliança Rebelde, com a galáxia mais empoeirada e decadente que Gareth Edwards idealizou nesse seu retrato de um período dominado pelo Império e pela guerra contra a resistência. A impressão que o trailer de Rogue One deixa é que o novo filme da marca Star Wars vai ser o mais emocionalmente ambicioso, o mais ousadamente tenso e sombrio, da série até agora. Se a promessa for cumprida, o que nos espera sem dúvida é um grande filme.