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Sharon Tate e Charles Manson: A história real de Era Uma Vez em Hollywood

ATENÇÃO: Contém spoilers de Era Uma Vez em Hollywood

Era Uma Vez em Hollywood é um dos únicos filmes de Quentin Tarantino, ao lado de Bastardos Inglórios, a contar com figuras e eventos reais. Mas diferentemente da saga de caçadores de nazista, seu nono filme está ligado a acontecimentos trágicos e que lidam com pessoas vivas até hoje, e que estão em um ponto mais nítido da cultura pop. O ponto, claro, é o assassinato da atriz Sharon Tate pelas mãos do culto de Charles Manson, que chocou os EUA em agosto de 1969.

Na fatídica noite, tivemos a tragédia que ficou conhecida como o Caso Tate-LaBianca. Na madrugada do dia 8 para 9 de agosto de 1969, Charles Manson enviou quatro membros de sua “Família” para cometer os assassinatos: Tex Watson, Susan Atkins, Linda Kasabian e Patricia Krenwikel. A orientação de Manson era simples, mas pavorosa: matar todos os presentes na casa da forma mais cruel possível, e ainda oferecer indícios de bruxaria e outros elementos ligados ao oculto.

Na madrugada, o grupo invadiu a casa de Tate e brutalmente assassinou todos os integrantes com facadas. Nem mesmo Tate, grávida de 6 meses, foi poupada do massacre, que ainda se alastrou quando o grupo seguiu para outra residência: a propriedade do casal Lena e Rosemary LaBianca, que moravam em Waterly Drive, no subúrbio de Los Feliz.

Por que Sharon Tate?

O ataque de Manson à residência de Sharon Tate e Roman Polanski pode parecer aleatório, mas tem uma lógica que realmente só faz sentido ao líder do culto. Antes do casal se mudar para a residência em Cielo Drive, ela foi lar de Terry Melcher, produtor de discos de sucesso na época, e cujos clientes incluíam os The Beach Boys. Foi através da banda que Manson conseguiu contato para tentar investir em sua carreira como cantor, fazendo amizade com o baterista Dennis Wilson – que tentou apresentar Manson para seu produtor.

Melcher até chegou a ouvir algumas das gravações de Manson, mas desistiu do acordo ao presenciar vislumbres de sua personalidade perigosa. Durante uma visita no Rancho Spahn, ele testemunhou uma briga entre Manson e um dos dublês que viviam na propriedade, que havia se tornado o “covil” de seus seguidores. Isso cortou relações entre os dois, o que certamente enfureceu o aspirante a músico, que continuou a forçar o contato e até apareceu na casa de Melcher em Cielo Drive – mas foi justamente quando Tate e Polanski já a habitavam.

Ao ordenar o massacre naquela noite de agosto de 1969, um dos fatores pela mente deturpada de Charles Manson provavelmente foi um tipo de vingança. Uma revanche por ter sido ignorado, e aliado a sua “missão” psicopata de provocar uma guerra racial nos EUA, e espalhar o terror de sua organização. Era a iniciativa que Manson chamava de “Helter Skelter”.

A versão de Tarantino

O terceiro ato de Era Uma Vez em Hollywood segue quase todos os eventos de forma fiel. Mas a divergência começa quando uma das assassinas sugere que o grupo ataque a casa vizinha, onde mora o astro Rick Dalton; que minutos antes havia gritado com eles, exigindo que saiam de sua propriedade. O grupo então avança para a casa de Dalton, mas acabam encontrando um Cliff Booth viajando após fumar um cigarro de ácido, e que prepara o jantar de sua cachorra feroz, Brandy. 

Quando Tex as garotas tentam avançar contra Booth, ele violentamente da conta de dois deles. Brandy avança contra Tex e Leslie, enquanto ele esmaga a cabeça de Patricia nas paredes da casa – e dá um pisão na cara de Tex. Por fim, Leslie é morta quando Rick vê o confronto, queimando-a com seu lança-chamas, do filme Os 14 Punhos de McCluskey. Um típico final Tarantinesco de violência extrema e estilizada.

Após toda carnificina, Rick Dalton finalmente conhece sua vizinha, Sharon Tate, agora em segurança. Ela o convida para tomar uma bebida com seus amigos, e até cita alguns de seus trabalhos na TV, o que significa muito. Durante todo o filme, a jornada de Dalton foi a de um ator que caiu no esquecimento e luta para se tornar relevantemente novamente, enquanto Tate segue o extremo oposto: é uma jovem estrela que vai ganhando cada vez mais reconhecimento na indústria, e que na vida real foi tragicamente tirada de um caminho brilhante. Tarantino corrige duas injustiças aqui.

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