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Superpai | Entrevista exclusiva com o roteirista Ricardo Tiezzi

Após uma semana do seu lançamento, o filme Superpai trouxe ao foco o humor stand up, nas telonas. O gênero no Brasil partiu dos bares com shows ao vivo, foi para o teatro, internet e, finalmente, chegou ao cinema. O humor ácido transmitido pela forma de contar uma história ganhou traços mais leves e um protagonista mais humanizado nessa adaptação brasileira. Mas como foi a experiência de passar para o cinema um estilo de humor polêmico? Qual a preocupação com o público? E, será que adaptar roteiro americano contribui para descaracterizar a cultura brasileira? O Observatório do Cinema entrevistou Ricardo Tiezzi, confira.

1. Sobre o filme Superpai: como foi a experiência de escrever este roteiro para o cinema com a presença de um humor como o stand up comedy?

A experiência foi a melhor possível. O roteiro consiste em uma adaptação de uma história que veio de dois roteiristas americanos. Logo nas primeiras páginas dava para sentir que tinha uma pegada forte. A frase do cartaz do filme é “uma comédia nada família”, que já indica esse tipo de humor mais ácido e anárquico que procuramos. Como eu gosto desse tipo de humor, me senti em casa.

2. Qual foi a preocupação da equipe de roteiristas com o espectador?

Preocupação total. Escrever roteiro é tentar estabelecer um diálogo desde logo com o espectador. É imaginar suas reações, suas emoções e afetos que serão envolvidos no filme. No caso de comédia, tentar prever também onde o espectador vai dar risada, quais as piadas que funcionam e quais não funcionam.

3. Qual a mensagem que vocês (equipe) queriam passar ao público com a construção do roteiro?

O roteiro original tinha um nível de radicalidade maior – a única mensagem era fazer rir com um humor mais ácido. Nós buscamos humanizar mais o

protagonista e reforçar seu lado família. Ele não é um pai malvado, apenas um pai relapso que não sabe cuidar do filho, um cara que não conseguiu sair da adolescência, quando ele era um vencedor. No final, tampouco ele se torna um modelo de pai carinhoso e presente, mas na jornada aprendeu que não adianta ficar preso ao passado e esperar a vida inteira pela mão perfeita do pôquer. Ele entende que precisa valorizar o par de ases que tem, que são seu filho e sua mulher.

4. Porque o cinema brasileiro tem investido tanto em adaptações de roteiros norte-americanos?

Não sei se tem investido tanto assim. O que eu sei é que já peguei alguns para ler e mesmo adaptar, e nas primeiras páginas se percebe o grau de maturidade narrativa e profissionalismo, mesmo em roteiros feitos por estreantes.

5. É possível que esse investimento em formatos e roteiros americanos contribui para descaracterização da identidade cultural brasileira, como?

Não. Filmes são filmes, séries são séries, livros são livros. Não existe filme brasileiro, série americana, livro francês. São todos partes de uma mesma cultura.

6. Algumas obras literárias brasileiras já foram encenadas no cinema, como: “Capitães da Areia” (2011) de Jorge Amado e “O auto da Compadecida” (1999) de Ariano Suassuna. Em sua opinião por que histórias como essas não atraem mais o público quanto às atuais de roteiros americanos adaptados?

Quando é muito bem adaptado, como o Suassuna que você citou, o público compra. Existem, por outro lado, bons livros do Jorge Amado que foram um fracasso nas telas. Roteiros adaptados de outras fontes também podem dar certo ou não. Conclusão: não é só a fonte original que atrai o público, mas sim a qualidade da história (seja lá de onde venha) e da adaptação.

Por Ká Sant’Ana
Estudante de jornalismo do 7º semestre na Universidade Sagrado Coração (USC) em Bauru/SP. Gosta de história, cultura e cinema.
www.facebook.com/karina.ana

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