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Crítica | Shazam!

Shazam! chega aos cinemas com a difícil missão de continuar o ponta-pé de renovação do DCEU (DC Extended Universe, ou Universo Estendido DC) que foi dado pelo Aquaman de James Wan. Mais do que bater sua meta, o filme dá uma cara ainda mais nova para as adaptações da Warner, e deve agradar aos mais diversos públicos.

Algo a se apontar sobre o longa é que tudo que ele promete, ele de fato entrega. É um filme de super-herói, é um filme de origem, é uma comédia, é uma renovação de tom, é um filme para crianças, é um filme para o público já fã da personagem, é um filme que tem fortes inspirações em Quero Ser Grande. Vale dizer que é uma obra que deve ser entretenimento garantido para toda família e não só para o público infantil, e também que seu lado cômico não extrapola com humor fora de hora. Pelo contrário, as piadas são bem colocadas e não sofrem do infortúnio de muitas comédias que têm seu melhor material exposto nos trailers. Aliás, o filme é muito maior do que se espera só pelas suas ações publicitárias.

Sua ótima qualidade não impede alguns poucos deslizes. Os primeiros minutos do longa podem ser demasiadamente longos e, boa parte do que envolve o Dr. Taddheus Silvana de Mark Strong pode ficar questionável aos olhos mais atentos. Talvez o grande problema seja a questão de um dos poderes do protagonista, a sabedoria de Salomão. A própria premissa do filme anula a possibilidade desta ser usada de forma mais eficaz, e parece que pra isso não passar em branco o roteirista Henry Gayden resolveu fazer do vilão uma personagem um tanto quanto burra. Contudo, pode-se afirmar que o ímpeto de sua busca acaba o cegando de alguma forma.

Ainda assim, não há o que pontuar na atuação de Strong. Mais uma vez ele cumpre o papel que lhe é dado, embora esse seja frequentemente o mesmo. Pouco também se pode reclamar da escrita de Gayden. Assim como em Aquaman, Shazam! usa muito do diálogo expositivo, o que tira um pouco a elegância da narrativa, mas é eficaz e deixa bem explicada as origens dos poderes de um super-herói que apesar de ser popular, não tem o alcance que a cultura pop deu ao Batman ou Superman.

Esse é o outro ponto que torna o filme interessante. Foram necessários seis filmes com o Homem-Aranha como protagonista para que o ótimo Homem-Aranha no Aranhaverso acontecesse. Com a personagem tão bem explorada, a animação pode ousar dentro de seu universo. Shazam! toma para si a mesma ousadia, mas protegido justamente pelo contrário. O pouco conhecimento do grande público sobre o que cerca a personagem é usado como trunfo para explorá-lo sem ter vergonha de errar por arrojo. Assim, o filme usa e abusa de sua mitologia, misturando as suas mais diversas versões, dando evidências ao longo da caminhada, mas sem entregar suas surpresas ao espectador mais atencioso.

A dinâmica de suas cenas de ação são um show à parte. Estas consegue entrar na história de forma a serem usadas para demonstrar o crescimento da personagem. No primeiro confronto entre o herói e Silvana vemos uma luta quase que banal. Aqueles que se lembram do confronto final de Superman e General Zod em Homem de Aço verão de cara a inspiração, já confirmada por Zack Snyder que teve referência das lutas da animação Dragon Ball Z. Mais para frente, quando vemos um Billy ciente de suas capacidades, seu estilo muda, mostrando algo muito diferente do que é o Superman, sua analogia mais óbvia. Dessa forma, Shazam consegue se mostrar um herói de identidade própria, não só por sua personalidade infantil, o que só fortalece o filme dentro dos intermináveis blockbusters de super-heróis.

A batalha final do filme é um momento a se considerar. Além de uma agradável surpresa que só contribui para a ação e humor do filme continuarem a entreter ao máximo seu público, há um ponto que pode ser considerado uma leve quebra de expectativa. Em momento nenhum o filme se propõe a ser épico, mas uma ameaça para Shazam, mesmo um Shazam com pouca ciência de si, pressupõe um alcance maior do que o palco no qual ela fica concentrada. Novamente, a busca pela qual o vilão tem uma forte fixação pode explicar. Entretanto, isso pode gerar um leve estranhamento para alguns olhares.

Tão acertadas são as atuações do filme, que fica difícil destacar alguma. As crianças estão todas muito bem no longa, mas Asher Angel e Jack Dylan Grazer devem fixar melhor na memória pelo tempo de tela de suas personagens, respectivamente Billy Batson e Freddy Freeman. Angel mostra que consegue sem problemas segurar um filme. Outro que mostra o mesmo é Zachary Levi, que esbanja carisma durante o longa.

Shazam! pode ter sido a escolha comercial mais acertada do DCEU até o momento. Talvez não em uma questão de bilheteria, mas de mostrar ao público mais receoso após alguns fracassos de crítica e divisores de opinião de que ela é capaz de dar ao povo o que ele quer. Divertido, emocionante e surpreendente, Shazam! mostra que o DCEU aprendeu com as respostas aos seus filmes anteriores e que, assim como fez com Aquaman, deve agora apostar no melhor de sua contemporaneidade com todo o clima da Era de Ouro de suas histórias em quadrinhos.

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