O lançamento de Liga da Justiça nos cinemas nessa quarta (15) reascende uma discussão que, entre fãs de filmes de super-heróis, é tão antiga quanto o próprio DCEU, iniciando-se lá em 2013, com o lançamento de O Homem de Aço: por que os filmes da DC não conseguem críticas tão boas quanto os filmes da Marvel?
A média de 43% de aprovação no Rotten Tomatoes, site agregador de críticas mais popular do mundo, para Liga da Justiça, voltou a aquecer a discussão, que é muito mais complexa do que a internet pode te levar a crer. Nenhum dos filmes da Marvel nos últimos anos recebeu média semelhante no site – e é fascinante tentar entender porque esses filmes seduzem os críticos de maneira mais eficiente a embarcar na noção de que cultura pop é também boa arte.
Primeiro, vou ser absolutamente claro, não subscrevo à noção ridícula de que os críticos são de alguma forma “comprados” pela Marvel/Disney para dar boas críticas aos filmes lançados por eles. Nenhum argumentador sério dessa questão consideraria essa possibilidade, mas estamos em tempos de extremismos, e tentar remover o mérito da “concorrente” por suas boas críticas está em alta no momento. Este que vos fala, pelo contrário, acha que é absolutamente um mérito da Marvel a forma como o estúdio conseguiu encontrar uma fórmula que permite sutis subversões e mantem os críticos cantando no mesmo tom filme após filme.
Parte do motivo pelo qual os filmes da Marvel ganham esse “passe livre” é porque eles se acomodam a uma noção pré-concebida da forma como um blockbuster deveria ser, e parecem extraordinariamente confortáveis para trazer suas inovações, brincadeiras conceituais e discursos políticos e sociais dentro dessa noção. Capitão América: O Soldado Invernal é um thriller político inspirado por clássicos como Sob o Domínio do Mal (1962), mas é também um filme que parece muito à vontade dentro dos limites do gênero de super-herói. O mesmo vale para Thor: Ragnarok e sua comédia psicodélica, ou Homem-Aranha: De Volta ao Lar como um nostálgico filme de colegial.
Batman vs Superman não está à vontade no gênero de super-herói. Cada tomada de caminho narrativo do filme deixa transparecer a luta que ele trava consigo mesmo, entre a ambição artística de um diretor visualmente genial, um roteirista vencedor do Oscar com algo profundo para dizer sobre o mito do super-herói, e as pressões mercadológicas de uma franquia em expansão. Liga da Justiça, por outro lado, tenta “corrigir o curso” de maneira desastrada e acaba perdendo novamente o ponto daquele toque sutil de personalidade que vemos nos filmes da Marvel.
Em uma época de blockbusters pouco ou nada inspirados como Tartarugas Ninja, Transformers e virtualmente qualquer coisa na qual Michael Bay ou Jerry Bruckheimer coloquem as mãos, Batman vs Superman chegou com uma visão única do mito do super-herói, que é apenas o mais importante da cultura pop da nossa era. E sim, “única” é a palavra-chave, porque por mais que você não tenha gostado da proposta sombria de Snyder e seus roteiristas, é impossível não lhe dar a virtude da absoluta novidade de seu tratamento.
Em Liga da Justiça, a DC procura fazer como a Marvel e se encaixar ao esperado de uma aventura de super-heróis e de um grande blockbuster, mas não é capaz de “matar” a personalidade que criou nos filmes anteriores completamente. A verdade é que, como críticos, ainda punimos arrasa-quarteirões que esfregam sua ambição na nossa cara, porque estamos acostumados a exigir que eles a escondam por trás de um verniz de descompromisso.
A DC ainda não sabe fazer esse “truque” do discurso pop, e é inteiramente possível que nunca aprenda. Seu discurso segue sendo essencial, e seus heróis tão inspiradores, quanto os da concorrência.