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Capitão América: Guerra Civil | O que o conflito significa para o universo Marvel?

Com Capitão América: Guerra Civil iluminando as telas de cinema nesta quinta-feira (28), logo teremos todos passado por nossa sessão do que muitos críticos estão apontando como o melhor filme do universo Marvel até hoje. E seja qual for o final que os irmãos Russo e os roteiristas escolherem, só uma questão vai assombrar a cabeça de todo mundo pelos próximos tempos: o que a Guerra Civil entre os super-heróis significa para o universo Marvel?

Crítica | Capitão América: Guerra Civil

Quando a série em quadrinhos veio ao mundo, em 2006, nem de longe ela foi apresentada como o primeiro “grande evento” da história da Marvel – minissérie juntando todos os heróis da editora em uma história que mudaria tudo dali para frente era um recurso que a editora havia usado antes, e usaria outras vezes mais tarde, para dar ao seu universo perpetuamente em movimento (e, ao mesmo tempo, congelado no tempo) um “reset”, por assim dizer.

Pensando nisso, o que significa que a Marvel Studios tenha decidido “adaptar” Guerra Civil agora, oito anos e 13 filmes depois da estreia do estúdio em Homem de Ferro? Revendo algumas produções antigas do estúdio, a questão que é o estopim de Guerra Civil sempre esteve escondida por baixo de algumas das tramas dos filmes.

A questão dos efeitos colaterais das ações dos heróis esteve de forma delicada nas primeiras produções do estúdio, especialmente no primeiro Homem de Ferro, quando a atitude militarista de Tony já é sutilmente contestada (“Meu pai tinha uma filosofia: paz é sobre quem tem uma arma maior”). Em Vingadores: Era de Ultron, isso se materializa não só na ameaça do sentinela biônico criado por Tony, mas também no conflito entre Tony e o Hulk, e no clímax em Sokovia: dessa vez, é importante pensar no que os heróis estão destruindo enquanto causam uma orgia de efeitos especiais. Paz não é sempre sobre quem tem a maior arma.

O conflito entre Tony e Steve Rogers nesse sentido também é muito bem documentado, tanto no primeiro encontro entre os dois em Os Vingadores quanto em Era de Ultron, e também nos filmes solo do Capitão, que se esforçaram para construir e relativizar a figura de Rogers, ao mesmo tempo em que mantinham uma fundamental retidão moral que o fez a pedra fundadora sobre a qual a Marvel construiu o seu universo cinematográfico.

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Fase Três

Mais tarde em 2016 (3 de novembro), a Marvel introduzirá o Doutor Estranho a sua galeria de personagens cinematográficos, em um filme solo que busca repetir o sucesso de Homem Formiga teve com um personagem menos conhecido do público. Com sua conexão forte com o lado “mágico” da mitologia Marvel, o Doutor Estranho é um personagem simbólico para introduzir agora, que a Marvel se lança em sua “fase três” com Capitão América: Guerra Civil. Depois do conflito entre os heróis, a ideia é preparar o terreno para a chegada de Thanos em Vingadores: Guerra Infinita.

Introduzir uma ameaça intergaláctica não é exatamente o problema, uma vez que a Marvel já explorou o espaço em Guardiões da Galáxia, mas complementar o universo dos heróis muito terrenos que conhecemos nas duas fases anteriores com um personagem conhecido como Mago Supremo, além da garota que consegue seus poderes de uma raça alienígena hostil (Capitã Marvel), é uma jogada arriscada, com a Marvel colocando todas as suas fichas em um universo expandido que possa fazê-la não depender tanto dos mesmo astros e mesmos personagens para todos os grandes filmes.

Não só os contratos de atores como Robert Downey Jr e Chris Evans estão acabando (embora obviamente possa haver renovação) como também a história que a Marvel vem contando desde 2008 parece atingir o seu ápice em Guerra Civil, e é interessante observar que, embora eles continuem a mão para a próxima aventura dos Vingadores e para papeis menores nos outros filmes que estão nos planos da Fase Três, a lista da Marvel até 2019 não inclui absolutamente nenhum filme das séries solo de Tony e Steve (o terceiro Thor ainda está nos planos).

Nos quadrinhos, como apontou recentemente Kevin Fiege, alguns arcos e títulos entram e saem de publicação, mas a máquina narrativa da Marvel continua girando, qualquer que seja configuração do universo da editora naquele momento. Se o universo cinematográfico da Marvel está caminhando para esse sentido, “parar de publicar” as franquias dos heróis que fizeram os primeiros oito anos do estúdio não parece uma decisão tão radical.

Consequências emocionais

Alguns parágrafos acima, citamos que Capitão América: Guerra Civil carrega certo sentimento de clímax para a narrativa que a Marvel construiu até agora. Não é só porque parece que as bases para esse conflito estavam plantadas lá no comecinho, nos primeiros filmes que nos apresentaram esses personagens, mas também porque há uma culminação de temas e uma promessa de conflitos maiores, e porque os primeiros relatos envolvidos no filme garantem que, emocionalmente, o filme tem um aspecto mais sombrio e mais consequente para o universo maior da franquia. Indo uns contra os outros, esses heróis se encontram em uma situação na qual nunca estiveram, e para a qual sempre pareceram destinados – se isso não é a própria definição de um clímax, não sabemos o que é.

O questionamento do mito do super-herói é um tema poderoso por muitos motivos, principalmente a nossa crença nesse arquétipo por tanto tempo na cultura humana. Seja o idealismo do Capitão América, o militarismo fundamental do Homem de Ferro, ou a plena desconfiança da Viúva Negra e do Homem Formiga, a relação dos super-heróis com a nossa noção de política e de sociedade sempre foi estreita – é por isso, afinal, que eles sobreviveram por tanto tempo como uma das formas de entretenimento mais populares do mundo. Em um mundo contemporâneo, a relação desses heróis com sua humanidade (e a nossa) é permitida de ser mais complexa e interessante, e isso é ótimo.

Tudo isso para dizer que é bem possível que, por mais divertido que seja, Capitão América: Guerra Civil pode não ser um filme fácil de assistir, especialmente se pegar pesado na simbologia e na reflexão sobre o que esses seres super-poderosos significam para a nossa sociedade – e nas consequências emocionais que esse conflito pode trazer para cada um dos personagens e suas relações.

O universo Marvel passou oito anos construindo devagar a nossa afeição por esse universo muito particular e restrito em 13 filmes e várias séries de TV/curtas-metragens/vídeos virais. Agora é a hora de começar a destruir tudo de volta, para sinalizar um novo começo.

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