Desde Vingadores: Ultimato (2019) que a Marvel Studios (aqui em parceria com a Sony) não lançava um filme-evento do porte de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa. Já é mais que sabido, especialmente entre fãs, que o queridinho cabeça de teia é um dos mais populares e amados super-heróis da cultura pop de todos os tempos.
Contando este, já são oito filmes solo do teioso, mais algumas participações muito importantes em produções do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), como Capitão América: Guerra Civil (2016) e Vingadores: Guerra Infinita (2018). Mas, inegavelmente, nunca se teve tanta expectativa e se fez tanto barulho para um projeto solo do Homem-Aranha como é o caso desta terceira entrada da Era Tom Holland, novamente dirigida pelo diretor Jon Watts, que já tinha trabalhado nos dois anteriores: Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017) e Homem-Aranha: Longe de Casa (2019).
Já que Vingadores: Ultimato e Homem-Aranha: Sem Volta para Casa são da mesma espécie, fica bem confortável estabelecer um comparativo entre ambas para ajudar explicar as diferenças encontradas. Enquanto o primeiro é uma obra de entretenimento (bem) questionável, principalmente nos dois primeiros atos, que ainda apela ao ‘sentimentalismo do adeus’, temos com Sem Volta para Casa algo mais atrativo como diversão, causando comoção tanto pela agitação ‘geek’ quanto pela emoção de perceber que o amadurecimento surge de situações realmente conflituosas que são parte da vida humana.
Assim, pela primeira vez na história do Homem-Aranha, temos a identidade do nosso simpático herói da vizinhança revelada, colocando suas responsabilidades como um super-herói em conflito com sua vida normal e colocando em risco aqueles com quem ele se preocupa. Quando ele pede a ajuda do Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) para restaurar seu segredo, o feitiço abre um portal em seu mundo, liberando alguns dos vilões mais poderosos que já lutaram contra o Homem-Aranha de outros universos. Agora, Peter Parker (Tom Holland) terá que superar seu maior desafio, que não apenas alterará para sempre seu próprio futuro, mas também do Multiverso.
Hora da diversão
Se no primeiro ato de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa ensaiam uma tentativa de abordar uma temática que diz muito sobre os tempos atuais, no caso, uma polarização de ideias incandescidas pela mídia jornalística de má qualidade; quando chegamos no primeiro ponto de virada do roteiro escrito pela dupla Chris McKenna e Erik Sommers, notamos o desejo pelo entretenimento de gênero, fornecido de todos os elementos que fazem parte da cartilha de filmes de super-heróis, ou seja, muita ação frenética, humor, romance, além de uma reflexão final que na maioria dos casos não é nenhuma novidade para fãs ou público-geral.
Tirando algumas partes no centro da história que são bem dispensáveis, até mesmo porque lá na frente iremos ter um combate final do mesmo jeito entre Parker e alguns vilões já conhecidos do público, temos uma produção que encanta com alguns pequenos ‘fan services’ que serão capazes de aumentar a eletricidade dentro das salas de cinema.
Agora, na virada para o terceiro ato, ganhamos momentos marcantes, seja na ação, comédia ou drama. Tudo funciona certinho nos momentos derradeiros de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, algo que muito provavelmente irá trazer uma boa dose de alegria aos espectadores.
Os vilões
Pelos trailers disponibilizados anteriormente ao lançamento, mais as notícias que não paravam de chegar, sabíamos que o salvador da metrópole nova iorquina iria enfrentar cinco vilões de uma só vez. São eles: Electro (Jamie Foxx), Doutor Octopus (Alfred Molina), Duende Verde (Willem Dafoe), Homem de Areia (Thomas Haden Church) e Lagarto (Rhys Ifans).
Os dois últimos ganham um pouco menos de destaque que os outros, sendo que na maior parte do tempo testemunhamos suas versões computadorizadas digladiando o cabeça de teia; enquanto os três restantes tomam a frente, representando muitas dificuldades para o jovem Peter Parker.
Alfred Molina repete o mesmo carisma e presença inquestionável vista em Homem-Aranha 2 (2004), já Jamie Foxx traz um Electro bem diferente daquele de O Espetacular Homem-Aranha 2 – A Ameaça de Electro (2014) de Marc Webb: melhor no quesito visual, mas muito menos impactante pela personalidade, revelando-se um nêmesis ganancioso e cheio de si.
Todavia, foi através do talentosíssimo Willem Dafoe que aprendemos mais uma vez qual é a diferença entre um vilão e uma real ameaça. O ator americano de 66 anos de idade não apenas repetiu o trabalho exemplar observado na primeira trilogia desenvolvida pelo autor de cinema Sam Raimi, como mostrou-se ainda mais envolvido com o transtornado Norman Osborn, vulgo Duende Verde. É simplesmente hipnotizante assistir Willem Dafoe tão à vontade na tela grande.
Peter (finalmente) amadureceu!
Nestes últimos anos, presenciamos algumas pessoas questionando as produções solo do Homem-Aranha (Era Tom Holland) para a MCU, afirmando que eram narrativas muito adolescentes, que tentavam dar um peso dramático onde não se desenvolvia nada para que isso realmente tivesse algum impacto emocional memorável no público.
Bom, para estes “reclamões”, saibam que o momento chegou! Peter Parker finalmente amadureceu!
Neste Homem-Aranha: Sem Volta para Casa não só temos o melhor projeto solo sobre o teioso feito pela MCU, como a primeira prova real de amadurecimento do herói que balança entre os prédios de Nova York. Se Sam Raimi e Marc Webb optaram por fazer seus longas-metragens debutantes, Homem-Aranha (2002) e O Espetacular Homem-Aranha (2012), respectivamente, de forma mais catártica; percebemos que Jon Watts só conseguiu executar isto nesta terceira parte.
Aqui vemos o Peter Parker de Tom Holland realmente aprender o significado daquela frase que nos marcou desde o primeiro trabalho criado por Raimi – “Com grande poder vêm grandes responsabilidades.”
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