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Inumanos | Crítica - 1ª Temporada

Por Adolfo Molina

Ao ter sido anunciado, primeiramente como filme, Os Inumanos despertou o sentimento da curiosidade em diversos âmbitos. Apesar de adaptar um interessante cânone do universo X-Men e ter sido criado por Stan Lee e Jack Kirby, dois nomes poderosíssimos dos quadrinhos da Marvel, foram geradas muitas incertezas desde o começo da produção até a confirmação de que seria lançada.

Por conta destas dúvidas e incertezas, decidiram transformar a obra em uma série, mudando radicalmente sua estrutura narrativa a poucos meses do lançamento. No primeiro trailer de Inumanos que foi lançado no dia 29 de junho, já haviam defeitos nítidos e que afastaram muitas pessoas de verem até mesmo o piloto, transmitido no canal ABC três meses depois, em setembro. Sua audiência foi de apenas 3,8 milhões, previsivelmente baixa.

E o descrédito que a série adquiriu, seja pela crítica especializada ou pelos espectadores é justificado em todos os oito episódios. A trama se concentra em apresentar os Inumanos, uma sociedade de humanos geneticamente modificados através de processo que altera o DNA, lhe dando habilidades e grandes poderes. Eles vivem em uma cidade na Lua, chamada Attilan, protegida contra possíveis ameaças, principalmente os humanos na terra. Reinado por Raio Negro (Anson Mount) e Medusa (Serinda Swan). A família ainda tem a irmã da rainha Crystal (Isabelle Cornish), os primos Karnak (Ken Leung) e Gorgon (Eme Ikwuakor) e Maximus (Iwan Rheon), irmão do rei.

Dentro dessa sociedade, a divisão ocorre entre quem adquire poderes e quem não tem depois de passar por um ritual chamado Terragênesis, onde a pessoa é colocada em uma câmara e um pequeno cristal roxo alienígena é inserido dentro de um compartimento fixado na câmara para que possa dar início ao processo de liberação dos componentes do cristal e perceber se ele irá alterar a composição genética da pessoa. Se ela sair com poderes, é um Inumano. Se não, é apenas um humano e será colocado para trabalhar nas minas onde são tirados esses cristais. É um sistema de castas sociais que Maximus, o irmão de Raio Negro e que irá ser o vilão da série, não concorda, e assim, executa um golpe de Estado. Aprisiona os familiares, os deixando enfraquecidos e toma controla sobre a cidade sob pretextos da abolição da divisão social. Com medo de serem assassinados e para fugirem da prisão, Raio Negro e os outros fogem para a Terra através de Dentinho, um gigantesco cachorro com poder de teleporte.

Então, a série toma base desse conflito familiar e político, mas acaba visando questionamentos bem plurais e diversificados. No entanto, acaba caindo em clichês narrativos, como a criação de romances entre os seres e os terráqueos, a caricatura de alguns personagens e sub-tramas envolvidas que acabam se perdendo da história original, denotando situações embaraçosas e cômicas fora de momento. O timing cômico da série, aliás, se utiliza das fórmulas padronizadas pela Marvel em outras produções, seja no cinema ou em outras produções derivadas, porém as saturam e perdem o controle da criação desses momentos.

Um dos principais pontos criticados quando o trailer foi exibido foram os efeitos digitais (CGI), principalmente na tentativa de animar o cabelo de Medusa, até que não aparece tanto durante os episódios e quando precisam ser utilizados, é dosado e feito de maneira bem equilibrada. Acredito que quando foram veementemente criticados no trailer, a equipe consertou diversas falhas e melhorou os efeitos. Obviamente que não são impressionantes, mas nada que deixe tanto a desejar.

Os erros graves da série se constituem na galhofada trama, com reviravoltas esquisitas e sem conexão, onde foi tentado explicar que Maximus estava com o golpe muito bem planejado, no entanto, sem conseguir transmitir a sensação de que ele tinha controle sobre tudo. E essa percepção calhou não somente por conta dos elementos narrativos, mas também pela complicada atuação de Iwan Rheonon. Quando o ator, que interpretou o proto-fascista Ramsay Bolton em Game of Thrones, foi integrado ao elenco e foi lhe dado o papel de um irmão vingativo e com um passado repleto de inveja e contestações pueris, já foi criado um certo temor e receio por parte dos fãs.

E esse receio foi intensificado ao longo de Inumanos. Variando entre canastrice e momentos de overacting (termo em inglês que se refere a quando um ator exagera na interpretação, sendo caricato ou fugindo do tom pedido), é visto um Maximus juvenil e que não consegue se valer pronto, nem para ser rei – o que a série ajuda a dizer devido ao personagem também se afundar em seu egoísmo e arrogância -, tampouco para fortalecer seu discurso vazio.

No entanto, há alguns méritos dentro da série. Um deles é a montagem do personagem Karnak. Estrategista, frio e emocionalmente distante, o principal conselheiro da família real é o ponto mais bem trabalhado e lúdico de Inumanos. Durante sua passagem na terra, suas concepções sobre previsibilidade, intuição, vontade e até mesmo sua inocência começam a ser revistos a partir do momento em que encara situações desconhecidas, tentando entender as divergências entre si mesmo e os humanos. Seu poder é conseguir prever todas as ações feitas a partir de cálculos matemáticos e calcular as probabilidades de sucesso ou falha nelas. A única adesão de um humano para servir como contrapeso durante a série toda, apesar da muleta já cansada, é o romance de Karnak com uma moça. Por ser talvez o personagem com um núcleo de características mais fechadas, quebrá-las exigiu uma paciência e focos que a série conseguiu estabelecer. E sua relação com Gorgon, transmitindo um cuidado, carinho como familiar e tutor só deu maior força à persona.

Há, porém, um direcionamento de personagens que fugiram de uma proposta. Por exemplo, Anson interpretou Raio Negro, conhecido por ser a arma mais mortal de Attilan com sua voz que provoca ondas de choque fortíssimas. Então o ator teve que praticar linguagem de sinais para assim se comunicar. Claro que isso exige uma atuação bem consistente pois ela só se manifesta pelas expressões ou presença física, ambos quesitos que não foram bem feitos. Um rosto sempre duro e uma expressão fechada que, por mais que tentou passar impressão de um rei triste e antipático, transmitiu um inexpressivo e falho personagem. O que é uma pena porque sua contraparte, a atriz Serinda Swan atuou muito bem com sua Medusa forte e impetuosa, mas carregada de sentimentos democráticos e benevolentes.

Inumanos é uma produção muito abaixo em termos qualitativos, abaixo até do que pareceu ser nas primeiras impressões ao trailer e piloto – que é incrivelmente horrível – com pouquíssimos bons pontos. É nitidamente um fracasso e antes mesmo de terminar a primeira temporada, foi comunicado pela própria Marvel que a série não iria ganhar continuidade. O que é bom pois fará com que o planejamento do estúdio seja revisto e que a obra ganhe uma perspectiva diferente.

A primeira temporada atualmente está disponível na Netflix.

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