Vingadores: Ultimato se tornou o primeiro filme no Universo Cinematográfico Marvel a incluir um personagem gay. Evidente que esse ‘personagem’ foi, na realidade, apenas uma ponta do diretor Joe Russo, como um homem lamentando a morte de seu marido. Ele sequer é nomeado.
A cena é um belo momento para construir a personalidade de Steve Rogers no filme, essencialmente mostrando o que o Capitão América fez desde que os Vingadores perderam a batalha contra Thanos.
Como a primeira aparição de um personagem LGBTQ no MCU, no entanto, essa cena deixou bastante a desejar, especialmente considerando que Thor: Ragnarok e Pantera Negra tiveram cenas mais significativas de representatividade cortadas de suas versões finais.
O personagem sem nome de Vingadores: Ultimato, ao menos, não foi promovido como parte do marketing do filme. Essencialmente ninguém (fora a equipe e elenco, claro), sabia da existência do personagem antes da estreia.
Propaganda enganosa
Esse não foi bem o caso do ator transgênero Zach Barack em Homem-Aranha: Longe de Casa. A Variety disse que seria um papel que “quebraria barreiras”, enquanto que The Advocate disse que Zach viveria “um amigo do Peter Parker”. Já o Chicago Tribune o chama de “estrela” do filme.
É ótimo que filmes tenham um elenco diverso e que contratem atores LGBTQ, mas a propaganda em cima da escalação de Zach Barack foi um tanto quanto exagerada.
O personagem tem um nome, pelo menos, ‘Zach’, mas só sabemos disso graças aos créditos finais. Sua presença em Homem-Aranha: Longe de Casa não é muito maior que a de Joe Russo em Vingadores: Ultimato, ele tem duas falas no máximo e definitivamente não é uma das ‘estrelas’ e não há interação entre ele e Peter.
Essencialmente, ele é apenas um figurante no filme.
A imprensa chegou a deixar claro que o personagem de Zach Barack não teria sua identidade de gênero mencionada no filme. O que é ótimo, só porque um ator é trans não quer dizer que esse deve ser o ponto principal do filme. De fato, a luta pela representatividade é justamente que pessoas trans consigam papéis como aqueles ofertados a qualquer ator cis. O mesmo vale para toda a comunidade LGBTQ+, por sinal – ninguém deve ser definido exclusivamente pelo seu gênero ou opção sexual, afinal.
Dito isso, considerando a importância da visibilidade de atores e atrizes trans, seria melhor se a Marvel tivesse escalado o ator para um papel mais relevante.
Demoraram demais
Estamos falando de uma franquia com mais de vinte filmes. É surreal que, nesse tempo todo, não exista sequer um personagem relevante LGBTQ.
Tudo isso fica ainda mais agravante se pensarmos em outros filmes de destaque (e com orçamento muito menor, por sinal) como John Wick 3, que trouxe Asia Kate Dillon, que roubou a cena em diversos momentos como The Adjudicator (infelizmente não me recordo da tradução oficial no Brasil).
Kevin Feige já prometeu um futuro de maior representatividade no MCU, mas, assim como seu primeiro filme solo de heroína, demoraram demais para realmente fazerem isso. Deadpool, para falar de filmes de super-heróis, já fez isso no seu segundo filme, incluindo um casal lésbico em Deadpool 2.
Vamos ver se o futuro da Marvel será mais inclusivo, ou se estamos diante de outro caso de verdades exageradas ao extremo.