Transformar histórias clássicas em narrativas inovadoras para novos públicos não é uma tarefa simples, mas Wandinha, da Netflix, conseguiu exatamente isso. Com uma mistura de humor ácido, mistério e o toque sobrenatural característico da Família Addams, a série rapidamente se tornou um fenômeno cultural. Ainda assim, nem todas as ideias por trás de seu sucesso são tão originais quanto parecem à primeira vista.
Uma das maiores surpresas da primeira temporada foi a revelação de que Marilyn Thornhill, uma figura amigável e acima de qualquer suspeita, era na verdade a vilã Laurel Gates. Esse momento impactante, porém, segue uma fórmula já vista em Harry Potter e a Pedra Filosofal, onde o professor Quirrell se revelou cúmplice de Voldemort.
Em Wandinha, Thornhill é apresentada como uma professora calorosa e simpática, responsável pelo cuidado dos alunos na Academia Nunca Mais. Sua personalidade gentil a coloca longe de qualquer suspeita, tornando a revelação de sua verdadeira identidade como Laurel Gates um choque para os espectadores.
Da mesma forma, Quirrell, em Harry Potter, é inicialmente visto como um professor tímido e inofensivo, até ser desmascarado como um vilão manipulador com Voldemort literalmente às suas costas. Esses arcos, além de similares em estrutura, destacam a habilidade dos roteiristas de usar a desconstrução de aparências para construir suspense. Em ambas as histórias, a confiança depositada nas figuras mais simpáticas acaba sendo traiçoeira, elevando a tensão e o impacto emocional no momento da revelação.
No entanto, a inspiração de Wandinha em Harry Potter não se limita à reviravolta final. A própria ambientação da série, que acompanha uma jovem com habilidades sobrenaturais em uma escola especializada, reflete o universo dos bruxos. Esse paralelo é ainda mais evidente na maneira como a narrativa equilibra elementos mágicos com dilemas pessoais e mistérios a serem resolvidos.
Outro ponto de convergência está na relação entre os professores e os protagonistas. Larissa Weems, diretora da Academia Nunca Mais, compartilha semelhanças com Severus Snape, de Hogwarts. Ambos começam como figuras aparentemente antagonistas, mas, ao longo da história, revelam motivações mais profundas e um lado surpreendentemente protetor.
Ainda que algumas ideias de Wandinha remetam a obras anteriores, a série consegue imprimir sua identidade única. A escolha de Christina Ricci, que viveu Wandinha nos filmes dos anos 90, para o papel de Thornhill, adiciona uma camada de ironia e nostalgia que só a produção da Netflix poderia oferecer. Além disso, o tom sombrio e o humor ácido de Wandinha criam uma atmosfera completamente diferente do universo mágico de Harry Potter.
Enquanto Hogwarts é repleta de encantos e aventuras épicas, a Academia Nunca Mais mergulha no lado mais obscuro e sarcástico da fantasia, proporcionando uma experiência distinta ao público. Seja coincidência ou inspiração direta, as similaridades entre Wandinha e Harry Potter refletem o poder de fórmulas narrativas consagradas. No caso de Wandinha, essas influências são transformadas em algo novo e envolvente. A série equilibra referências sutis com uma abordagem inovadora. A série Wandinha está disponível na Netflix, enquanto Harry Potter e a Pedra Filosofal pode ser assistido na Max.