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Vamos entender o sucesso de La La Land, um dos maiores recordistas de indicações do Oscar

Nesta terça-feira (24), após o anúncio dos indicados ao Oscar 2017, La La Land clamou seu lugar na história da Academia, recebendo nada menos do que 14 indicações em 13 categorias: Melhor filme, diretor, atriz, ator, roteiro original, trilha sonora original, design de produção, figurino, fotografia, edição, edição de som, mixagem de som e canção original. Assim, o musical de Damien Chazelle já nasce como um clássico e se iguala a Titanic (1997) e A Malvada (1950) em número de indicações.

Por essência, o musical é um gênero delicado, que transita entre o amor e o ódio por parte dos espectadores – isso quando não consideramos quem sempre passa longe do gênero, independente da história. É difícil encontrarmos musicais “meio termo”. Mas La La Land provou-se além das expectativas. Como compreender tal sucesso?

Antes de tudo, precisamos considerar um fato muito importante: jazz. Ainda que possam existem várias pessoas que não se dão bem com musicais, o mesmo não se pode dizer da Academia, que assumidamente tem uma queda pelo gênero – e se alguém coloca jazz no meio, nem se fala; Chicago (2002) está aí para nos provar. O musical faturou nada menos que seis Oscars, incluindo Melhor Filme na premiação de 2003. Estrelado por Catherine Zeta-Jones, Renée Zellweger e Richard Gere, Chicago nos dava tudo aquilo de bom que o jazz poderia nos oferecer, de uma forma bem eficiente, mas muito menos elegante que La La Land. Coincidência?

Ryan Goslin e Emma Stone em La La Land.
Ryan Goslin e Emma Stone em La La Land.

O apelo sentimental

Ainda assim, há um toque a mais em La La Land que faz tanto críticos quanto o público geral cair em suas graças; algo que, de uma forma ou de outra, de alguma maneira acaba amolecendo os corações mais sisudos.

La La Land é nostálgico em todos os aspectos. A ambientação e os figurinos brincam entre o moderno e o antigo, fazendo uso de diversas referências tanto à moda quanto aos musicais das décadas de 1940 e 1950 – o que, de certa forma, agrada à Academia e ao público mais saudosista que sente falta de Cantando na Chuva (que também é referenciado em uma cena belíssima).

Antes de La La Land: Os 10 melhores musicais clássicos de Hollywood

Devemos também considerar que La La Land é um musical de Hollywood, sobre Hollywood e para Hollywood. É uma ode ao passado e um brinde os sonhos que nos motivam a viver – então quem melhor para entender de sonhos que não Hollywood? Lá, onde todos os sonhos são possíveis: seja a garçonete que quer ser atriz, do amante de jazz, ou o sonho de encontrar alguém para se amar, “um impulso, um olhar, um toque, ou uma dança para se olhar nos olhos de alguém (…)”.

E, de certa forma, essa é a função de La La Land: fazer-nos sentir um pouquinho mais realizado, um pouquinho mais próximo de nossos sonhos, lembrando-nos que a cada decepção, um novo dia de sol sempre surgirá. E essa função é cumprida com excelência.

Esmero na produção

Se a história delicada e bem construída de La La Land conferem ao filme as indicações de Melhor Roteiro e Melhor Filme, por exemplo, os aspectos técnicos do musical dão conta das indicações aos demais prêmios.

Assim como o amor, que é o tema central, La La Land é exagerado em todos os sentidos. E digo “exagero” em um tom totalmente elogioso. Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Goslin) celebram seu amor através da arte de uma forma pura, inocente e, do ponto de vista técnico, soberba.

Emma Stone e Ryan Gosling em La La Land
Emma Stone e Ryan Gosling em La La Land

A cena de abertura , com 30 dançarinos, 60 carros e 100 figurantes, é de encher os olhos e mostra que a coreógrafa Mandy Moore não está para brincadeiras: apresentada em uma única sequência, ela já dita o tom do musical: extravagante, intenso, levemente melancólico e com grande números de dança – que se provam mais tarde, com Ryan Goslin e Emma Stone protagonizando um dueto de sapateado incrível.

Todo o mérito, inclusive, aos protagonistas: Goslin e Emma dividiram a atuação com aulas de dança que transitavam entre valsa, sapateado, jazz e dança de salão. Goslin, inclusive, voltou a aprender piano para dispensar dublês durante as gravações.

A fotografia se alia ao clima exagerado e melancólico do musical, e o resultado é igualmente maravilhoso. Há, no filme, a liberdade de mudar toda uma cena apenas com troca de luzes e, por vezes, parece que as sequências saíram de movimentos artísticos – desde o contraste marcado do barroco em algumas cenas de Sebastian ao piano, até o impressionismo de Monet nas diversas (e impecáveis) cenas de valsa.

Por fim, a trilha sonora de Justin Hurwitz é mais do que poderíamos esperar. Trabalhando essencialmente com o jazz, o compositor flerta com o clássico, usando até mesmo corais em algumas faixas, tornando a trilha extremamente diversificada. Não é à toa que o filme foi indicado a Melhor trilha sonora original e duas vezes por City of Stars e Audition (The Fools Who Dream), o ponto alto de Emma Stone no filme.

Dessa forma, fica impossível questionar a legitimidade de tantas indicações de La La Land. Despretensioso, o musical homenageia a antiga Hollywood e abraça todos os sonhadores; exagerado nos números musicais, simples na essência, mas de uma produção e esmero técnico dignos de cada prêmio em que concorre. Resta saber apenas o quão a Academia julgará o filme como melhor de sua categoria. Na melhor das hipóteses, de 14 indicações, esperamos que ele fature pelo menos 13 estatuetas: não faria sentido receber dois prêmios para a mesma categoria.

La La Land.
La La Land.

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