A edição de 2023 de Cannes está envolta em polêmica em razão do novo filme estrelado por Johnny Depp, da diretora Maïwenn, que chegou até a cuspir em jornalista antes do evento.
Jeanne du Barry, em que Depp vive Luís XV, abre o Festival na noite de terça-feira, marcando o retorno de Depp ao tapete vermelho, após batalhas legais contra a atriz, sua ex-esposa, Amber Heard.
Antes da estreia do filme, a diretora Maïwenn, admitiu ter cuspido em um jornalista.
“Ela é abertamente anti-#MeToo e fez um gesto para agradar seu mundo, e é por isso que ela se gabou disso na TV. Pudemos ver uma espécie de orgulho que ecoava esse mundo”, disse o jornalista Edwy Plenel à Variety sobre Maïwenn, em sua primeira entrevista desde o incidente do cuspe.
Na semana passada, durante uma entrevista televisiva a um talk show francês, Maiwenn confessou ter cuspido em Plenel. “Confirmo que o agredi? Sim”, disse Maïwenn na TV. “Falarei sobre isso quando estiver pronta”, acrescentou. “Estou muito ansiosa com o lançamento do meu filme.”
Plenel – que é editor-chefe e fundador do Mediapart, um jornal online investigativo francês independente – apresentou uma queixa policial em 7 de março, que acusou Maïwenn de agressão enquanto comia em um restaurante.
A diretora, que estava sentada sozinha em uma mesa próxima, teria agarrado Plenel pelos cabelos e cuspido em seu rosto, depois deixado o restaurante. Na denúncia, Plenel disse estar “traumatizado com o incidente”.
Agora, Plenel diz à Variety que acredita que Maiwenn cuspiu nele porque ficou chateada com uma investigação que o Mediapart publicou sobre alegações de estupro e agressão sexual contra Luc Besson. Maïwenn foi casada com Besson na década de 1990 e eles compartilham uma filha juntos.
Plenel diz acreditar que o incidente de cuspe é um ato político de Maïwenn para protestar contra o trabalho investigativo do Mediapart sobre assédio e agressão sexual na indústria cinematográfica.
O jornalista ainda diz que o Festival de Cannes, que selecionou o filme de Maiwenn para a noite de abertura, faz uma declaração sobre a postura da França em relação ao #MeToo.
“Cannes escolheu um símbolo completamente louco na seleção da noite de abertura: um filme de Maïwenn que é sobre uma cortesã em busca de poder”, diz ele. “A história que é apresentada no filme, juntamente com a escalação de Johnny Depp, seus comentários anti-#MeToo e agora essa agressão da qual ela parece estar orgulhosa e que faz as pessoas rirem na TV – isso diz alguma coisa.”
O apoio de Cannes ao filme de Maiwenn é indicativo de uma questão maior, de acordo com Plenel, que diz que a indústria cinematográfica francesa não abraçou o movimento para se posicionar contra o assédio e abuso sexual.
Apoiadoras de Amber Heard detonam Cannes
Em meio a esse cenário, apoiadoras de Amber Heard estão detonando Cannes, que escolheu justamente o filme com Johnny Depp – de uma diretora com visão tão retrógrada – para abrir o festival.
Uma nova campanha nas redes sociais com a hashtag #CannesYouNot está chamando o Festival de Cannes por “celebrar os abusadores por 76 anos”.
A campanha foi lançada online, dias antes do festival, por apoiadores de Amber Heard.
Eve Barlow – jornalista, ativista e amiga próxima de Amber Heard – postou a hashtag em suas redes sociais. “Cannes parece orgulhosa de sua história apoiando estupradores e abusadores”, postou Barlow nas redes sociais com a expressão francesa “Plus ça change”, que se traduz aproximadamente como: “Quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem iguais”.
Junto com sua legenda, Barlow postou uma série de fotos retratando homens acusados que foram presenças proeminentes em Cannes ao longo dos anos, incluindo Depp, Roman Polanski, Harvey Weinstein, Woody Allen, Gerard Depardieu e Luc Besson. “Se você apoia Cannes, você apoia predadores”, diz o post de Barlow.
A #CannesYouNot hashtag está sendo promovida em contas pró-Heard nas redes sociais.
A cidade de Cannes proibiu protestos ao longo da Croisette e seus arredores durante o Festival de Cannes. Os organizadores da campanha #CannesYouNot, no entanto, dizem que não podem ser impedidos de protestar online.
Na segunda-feira, na primeira conferência de imprensa do festival, o diretor de Cannes, Thierry Fremaux, rebateu as críticas de que Cannes apoia os abusadores. Falando a uma sala cheia de jornalistas, Fremaux disse: “Se você pensasse que é um festival para estupradores, você não estaria aqui me ouvindo, você não estaria reclamando que não consegue ingressos para entrar nas sessões”.
Brie Larson responde se vai assistir filme com Johnny Depp ou não
Brie Larson, a Capitã Marvel, que é uma das juradas de Cannes neste ano, não está fora dessa polêmica toda. A atriz está incerta sobre ver o filme com Depp ou não.
Ela evitou a pergunta quando questionada se participaria da estreia mundial, o que não é obrigada a fazer como jurada, já que o longa não está disputando a competição.
“Você está me perguntando isso?”, ela respondeu durante uma coletiva de imprensa do júri na terça-feira. “Sinto muito, não entendo a correlação ou por que eu especificamente.”
Quando pressionada, Larson acrescentou: “Você verá, eu acho, se eu ver. E não sei como vou me sentir em relação a isso se o fizer.”