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Big Little Lies | Crítica - 2ª Temporada

Dois anos depois, Big Little Lies retorna para uma segunda temporada repleta de belas performances, ainda que este aspecto não seja suficiente para torná-la tão memorável quanto a leva original de episódios dirigidos por Jean-Marc Vallée.  

Após a primeira temporada de Big Little LIes ter sido uma das séries mais comentadas de 2017, a HBO não resistiu a tentação, e decidiu aprovar um segundo ano, mesmo após o material original em que a série se baseia ter se esgotado. Pois agora, com a adição de Meryl Streep ao elenco, a produção acaba sendo sustentada pela atuação e pela dinâmica de grupo das protagonistas, ainda que seu apelo tenha diminuído consideravelmente sem a atmosfera de suspense e tensão que procurava-se equilibrar na primeira temporada. 

Tal qual foi elogiado no primeiro ano, este grupo de atrizes é capaz de manter o espectador consideravelmente entretido apenas acompanhando-as em suas rotinas voláteis por um episódio inteiro. A questão, no entanto, é que a temporada não consiste de apenas um episódio, e as novas tramas envolvendo as “Cinco de Monterey” não conseguem manter a experiência tão engajante quanto os diferentes conflitos apresentados pela primeira temporada. Ainda que conte com apenas sete episódios no total, é bem possível que muitos espectadores se sintam entediados com o ritmo desta nova história.

As “Cinco de Monterey” são compostas por personalidades bem distintas entre si, com cada atriz principal entregando performances produtivas para que o espectador se afeiçõe ao grupo, e acabe se sentindo envolvido pela dinâmica de suas interações. Meryl Streep não, necessariamente, adiciona tanto quanto poderia à esta dinâmica, e sua presença acaba sendo sentida mais tangencialmente do que o sentimento de urgência da temporada pediria. O resultado acaba sendo uma trama que se move mais para retratar as consequências do grande evento que marcou o final do primeiro ano, do que para realmente propor novos conflitos tão intrigantes quanto os anteriores. 

Ao discutir as consequências de mentiras e segredos guardados nesta comunidade de classe alta, Big Little Lies busca extrair o desespero e o pesar de personagens que, superficialmente, chamariam pouca atenção ou seriam vistas como pouco interessantes. Muitas das mentiras acabam existindo justamente para preservar uma noção de normalidade que acaba afetando não apenas a vida dos pais, como dos filhos também. Desde a recusa de Marie Louise para aceitar o comportamento abominável de seu falecido filho, quanto a detalhes como a filha de Madeline (Reese Witherspoon) inocentemente enxergando a mãe como “instável”. 

Os problemas influenciam as gerações de personagens e acabam gerando um ciclo vicioso, conforme foi retratado durante a primeira temporada. Tal tema continua sendo importante para esta nova história, e muitos dos melhores momentos acabam sendo produzidos por esta discussão da série. Zoe Kravitz tem talvez sua melhor cena em um momento onde sua personagem decide desabafar suas frustrações causadas pela mãe.

Mas tais problemas são trabalhados em meio a um contexto onde as aparências são o que mais importa, e encarar a desilusão que realmente acompanha tais expectativas pouco realistas para a vida pode ser devastador para tais personagens. O episódio onde Madeline acaba discursando sobre a falsidade dos supostos “finais felizes” de histórias infantis, após uma das crianças sofrer de ansiedade por causa do aquecimento global, é uma representação interessante deste contexto contemporâneo que a série se dispõe a trabalhar. 

Considerando esta consistência temática, o roteiro desta segunda temporada acaba tendo seus méritos, mas ao esquecer de construir o mesmo clima de antecipação da primeira, se limita a explorar estes personagens de forma paralela, pouco complementar para uma visão geral engajante. Jane (Shailene Woodley) e seus problemas de intimidade, a falência de Renata (Laura Dern), as dificuldades no casamento de Madeline… São todas tramas que tornam-se moderadamente interessantes de acompanhar por causa das atuações destas atrizes visivelmente dedicadas às suas personagens, mas estão longe de conseguir engajar o espectador tanto quanto a batalha entre Celeste (Nicole Kidman) e sua sogra. As vezes, podem chegar a ser dispersantes.

Nos dois últimos episódios, a série enfim decide dedicar seu maior foco para a disputa pela guarda dos dois filhos de Celeste, e nos entrega suas maiores viradas que impedem a temporada de ser meramente enfadonha. Nicole Kidman e Meryl Streep devem ser lembradas durante a próxima temporada de premiações por suas performances durante os depoimentos, e conforme as últimas cenas encerram todos os arcos pessoais que citei no último parágrafo, consolida-se a sensação de que esta foi uma história derivada, majoritariamente dedicada às consequências da trama anterior. Não há choque ou grandes epifanias. Há apenas a resolução, e talvez mais importante para estas personagens, a aceitação. 

Durante os momentos finais da temporada, o grupo de protagonistas se reúne para aceitar as consequências de seus atos, o que poderia ser considerado um gancho para um possível terceiro ano da produção. E embora eu gostaria de ver os roteiristas tentando encontrar novas tramas mais cativantes para este grupo, creio que a mera situação já serve para encerrar esta história com mais propriedade do que se nos aprofundássemos, mais uma vez, em consequências. Retomando a interpretação sobre o episódio que envolve o aquecimento global, talvez este seja o ponto mais interesse a se tirar desta temporada: O resigno perante finais infelizes, e a força para seguir adiante apesar deles. 

No final das contas, a falta da direção de Vallée nem chega a ser a maior perda desta temporada em relação a aclamada primeira. Na verdade, é possível imaginar que a abordagem compassada do diretor não encontraria muito terreno fértil para trabalhar suas construções de tensão em meio à estas tramas paralelas. O estilo permanece fiel nas mãos de Andrea Arnold, mas o ritmo desta história acaba sendo muito mais afetado pelos equívocos do roteiro, do que por qualquer aspecto visual ou da montagem (as vezes, peculiar). 

Big Little Lies mantém-se digna do selo de produções prestigiosas da HBO, mas encontra diversos problemas comuns à sequências que não encontram a mesma inspiração original. O esforço de acompanhá-la é válido para aproveitar as performances e refletir sobre alguns dos pontos temáticos que citei, mas ainda assim, seguir com esta segunda temporada não deixa de ser, em certos momentos, um esforço.

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