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25 anos depois, este filme continua sendo mais perigoso que Coringa

Parte da imprensa tem o hábito de tratar tudo como algo novo, como aconteceu com as controvérsias em torno de Coringa. Mas nada disso é novidade: em 1994, tivemos algo parecido com Assassinos por Natureza.

Dirigido por Oliver Stone e estrelado por Woody Harrelson e Juliet Lewis, Assassinos por Natureza contou com uma igualmente complicada cobertura da mídia. A história acompanha dois assassinos que são apaixonados, cujos crimes se espalham pelos Estados Unidos e atraem muita atenção da mídia e daqueles que consomem suas notícias.

Os dois personagens principais, Mickey e Mallory, não são bem motivados por política. Na verdade, eles são simplesmente vítimas de abuso infantil que internalizaram essa violência e cresceram para propagá-la para todo o mundo.

Mídia sensacionalista

Mas existe algo sobre seu relacionamento, seu talento para o drama e a natureza macabra de seus crimes que atrai a imaginação norte-americana. As redes de notícias criticam os chocantes e terríveis crimes de Mickey e Mallory, mas lhe dão o máximo de atenção possível.

O repórter sensacionalista Wayne Gale, interpretado por Robert Downey Jr. muito antes do Homem de Ferro, deixa claro que não há moral ou escrúpulos no jornalismo. Uma lição é passada quando ele é atraído pela violência em primeira mão, em vez de lucrar com ela à distância.

A lição se perdeu, no entanto, quando as grandes redes de notícias da vida real começaram a relatar crimes supostamente ligados a Assassinos por Natureza. Os repórteres entregaram histórias com o mesmo prazer hipócrita de Wayne Gale sobre como Assassinos por Natureza glorificava a violência e tentava inspirar jovens mentalmente doentes.

Claramente, havia mesmo uma glorificação à violência em Assassinos por Natureza. No entanto, a intenção de Stone era mostrar que a glorificação poderia ser tão repugnante quanto a própria violência.

Mas os meios de comunicação da atualidade não estão particularmente bem preparados para cobrir discussões sutis. Parece que pouco foi aprendido quase 25 anos depois do lançamento de Assassinos por Natureza – e Coringa é uma prova disso.

Coringa, o sucessor

Coringa retratada um homem perturbado com o nome de Arthur Fleck. Trabalhando como palhaço e com uma condição que o faz rir em momentos inapropriados, Fleck se vê vítima frequente de abuso e violência que eventualmente o leva a um ponto de ruptura psicológico.

Assim como os protagonistas de Assassinos por Natureza, o Coringa pega essa violência e joga de volta ao mundo. A resposta do mundo não é exatamente de horror, mas de interesse político empolgado.

Fleck se torna o rosto de um movimento, com Coringa dando muita atenção a como sua mensagem pode ser mal interpretada. Daí, os meios de comunicação do mundo real começaram a fazer o mesmo.

Muita atenção da mídia foi dada à cobertura de segurança nos principais cinemas exibindo o Coringa. Os meios de comunicação se concentraram nos traços mais amplos do enredo, criando conexões entre o personagem e incidentes violentos do passado, aparentemente esperando com ansiedade para que alguma tragédia acontecesse.

As ideias de Coringa não são revolucionárias ou inéditas. Assassinos por Natureza passou exatamente a mesma mensagem há 25 anos, muito antes que a Internet pudesse aparecer para exacerbar todos os problemas relacionados à mídia.

No fim, Coringa se beneficiou de todas as polêmicas geradas por meios de notícias indignados – tanto que é um sucesso de bilheteria. De alguma maneira, a Warner Bros. capitalizou o “perigo” em torno do longa, um sucessor menos inovador de Assassinos por Natureza.

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