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Crítica | Polar

Mirando o público aficionado por adaptações de quadrinhos e graphic novels, além de amantes do cinema de gênero ação, a provedora mundial via streaming produziu Polar, adaptado da série de quadrinhos noir homônima. Estrelada pelo ator dinamarquês, e sempre competente Mads Mikkelsen, a produção original Netflix não conseguiu realizar nada que já não tenha sido visto antes, lembrando algumas das primeiras produções adaptadas da cultura pop realizadas no começo deste século, à parte as obras de Bryan Singer e Sam Raimi, obviamente.

Em uma mistura de Red – Aposentados e Perigosos com O Justiceiro: Em Zona de Guerra, Polar da Netflix vagueia pelo terreno da violência gráfica trash, sem nem chegar perto de incomodar ou entreter via absurdismo cômico, nem também empatizar no campo dramático, especialmente na resolução da história, apesar dos esforços de seu protagonista.

A produção original Netflix nos apresenta Duncan Vizla, o Kaiser Negro, um habilidoso e implacável assassino de aluguel em vias de se aposentar com a chegada dos 50 anos de idade. Mas, é convocado para uma última missão por seu chefe Sr. Blut, e descobre que o real alvo é ele mesmo. E agora, terá que enfrentar uma gangue de jovens assassinos psicopatas se quiser sobreviver e garantir uma aposentadoria mais pacífica.

Existe apenas um único acerto em Polar, que é a performance fria e contida de Mads Mikkelsen, que tenta dar algumas notas a mais, incluindo uma boa atuação física, em um filme de uma nota só, que é repetida a exaustão. Curiosamente, apesar do bom trabalho do ator dinamarquês, esse contraste da sobriedade de sua atuação junto do clima mais austero nas cenas em que aparece não casa nem um pouco com o restante da atmosfera do longa de Jonas Akerlund, famoso e renomado diretor de videoclipes desde o final da década de 80, fazendo trabalhos para artistas como Roxette, Moby, The Prodigy, Metallica, Jamiroquai e Madonna.

Jonas Akerlund tenta imprimir um tom ‘trash’ absurdista cômico, que apesar dos “exageros” que são típicos ao estilo, pouco conseguem impactar, seja no quesito ‘gore’ sanguinolento ou via humor, pois mais do que tentar elaborar cenas de ação com intuito humorístico, é preciso desenvolver melhor suas personagens para que estas consigam exercer o papel de gatilho para o riso, ou qualquer outra forma de entretenimento.

Esse mix de estilos narrativos completamente distantes quando bem construídos ou elaborados conseguem criar maravilhas cinematográficas, pois além de serem mais audaciosos na prática, são capazes de surpreender o espectador em um produto visualmente notável de extremos, assim, existe grande espaço no caminho do meio para se estipular várias ideias. Quando dá errado, temos resultados como esta produção original Netflix, ou a nova versão de O Predador, que saiu no segundo semestre do ano passado nos cinemas; e se funciona, temos obras excepcionais como o multipremiado Três Anúncios Para Um Crime.

Um roteiro menos preguiçoso e uma direção mais uniforme e segura, pois Polar dá a impressão de ter dois filmes diferentes dentro de um, entregariam tais predicados necessários para elevar uma obra como esta que possui um enredo e personagens interessantes no papel, mas não na transmissão.

Talvez, agrade mais àqueles que são aficionados pelo mundo dos quadrinhos e dos games, porque Akerlund não esconde as influências em ambos, respectivamente, na edição de cortes rápidos com letreiros estilizados, além da parte de figurinos extravagantes, e cenas de luta bem executadas dentro do contexto deste tipo de obra.

Mesmo a verve de diretor de praticamente uma centena de videoclipes pode ser vista em Polar, mais especificamente, toda a introdução do filme em uma cena de emboscada em uma mansão no meio da floresta chilena, com participação especial de Johnny Knoxville, ator e apresentador do programa mundialmente famoso Jackass.

É uma pena que Polar da Netflix não consegue nem entreter, ou comover por qualquer via, pois haviam elementos ali capazes de pontuar mais a favor do longa de Jonas Akerlund, ainda mais tendo alguém como Mads Mikkelsen como parte de seu arsenal.

Instigante imaginar que se estivéssemos no começo deste século, obras como Polar continuariam com a pecha de um produto aquém do aceitável. Porém, eventualmente pelo leque de opções mais enxuto à época, filmes como este encontravam com mais facilidade seu espaço. Já, nos dias atuais, longas como esta produção Netflix, primeiro precisam torcer para serem vistos, para só depois serem esquecidos.

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