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Crítica | Vende-se Esta Casa

A Netflix investe anualmente em filmes próprios que seguem o gênero do terror. Recentemente, completou seu catálogo com diversas produções originais que, por mais que sigam uma tendência padronizada, possuem clareza e uma mastigada significância. Vende-Se Esta Casa, o primeiro longa original Netflix de 2018 consegue não somente ruir tudo que um filme de terror acarretaria, como também é amplamente falso no sentido de propor um suspense.

O filme conta a história de uma mãe e filho que, após o falecimento do pai, passam um tempo na casa da irmã da mãe, para buscar um pouco de paz e superar o luto, especialmente para Logan, o garoto. Entretanto, essa casa está à venda e em um dia da semana, ela é aberta para visitações, o que acaba fazendo com que ambos tenham de sair da casa por um tempo e depois regressar. Após algumas visitas, eventos repentinos e de origem estranha acometem a casa, ameaçando a vida do fragilizado núcleo. É uma premissa que poderia render situações interessantes, especialmente na relação entre os personagens, suas considerações escondidas sobre o luto. No entanto, tanto os personagens quanto esta ameaça estão longe de uma representação confiável, representativamente inerte ao gênero do suspense e do terror.

O primeiro ato, que é de apresentar a família, incluir o falecimento e instaurar a relação entre a mãe, Naomi e o filho, Logan, se conduz em um estabilizado roteiro e em um tempo gradual. A relação entre o garoto e o pai era muito mais estabelecida e recíproca do que com a mãe, mas a razão para esta última é vaga e superficial.

A partir da transição deste ato para o arco de desenvolvimento da tensão, é onde se inicia uma confusa e mal-direcionada construção do suspense. Personagens novos que não são acrescentam à trama principal. Em questão, o terror incluído foi costurado em cima da suposta à casa venda. Sobre de quem era antes, porque a vizinhança lida com ela de maneira estranha. Entretanto, a identificação e montagem simbólica da casa não acontece. É vazia e totalmente inócua. Não representa verdadeiramente uma ameaça constante, apenas um temor de um possível desconhecido, no qual suas atitudes são injustificáveis e não condizentes com a história.

Ao afirmar que não possuem clareza, na verdade, elas não possuem sentido e nem conexão. Nada sobre a história da casa é contada, nada sobre quem o perseguidor e “invasor” é mencionado. O flerte com possíveis assombrações e uma representação espiritual de possessão ao imóvel são quase que nulos. A empáfia com o roteiro emerge a medida em que o filme se aproxima de uma conclusão que não permite, novamente, identificar os supostos temores.

Nem os clichês supostos do gênero no cinema atual, com repentinos sustos e alimentação de tensão a partir da expectativa do que está para vir durante a cena, são utilizados de maneira cautelosa. São acintosos e prejudicam o sentido do roteiro, que a cada sequência nova e tentativa de capturar um nexo pela casa, ele é ruído e perde totalmente sua relevância.

Vende-se Esta Casa é um filme que não expressa nada. Nem os mais supérfluos sentimentos de suspense e tensão são continuados de forma condizente. O terror é uma tentativa nula de imposição ao sobrenatural e aos temores mais realistas pois há um constante conflito entre essas situações, que não se permitem ter pontuações coerentes. Mal atuado, dirigido e escrito, é uma das piores narrativas de terror que a Netflix já fez, disponibilizando um amadorismo tão juvenil que nem os filmes de baixo orçamento do subgênero trash teria.

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