Em seu primeiro longa-metragem, O Nome da Morte, Marcos Pigossi dá vida a Júlio Santana, um dos maiores matadores de aluguel da história do Brasil, ou que se tem notícia. De rapaz simples do interior do país, Júlio se tornou uma grife quando o assunto é matar: 492 vítimas. Todas registradas em uma caderno com a capa do Pato Donald.
No roteiro, Júlio Santana entrou para o mundo do crime por conta da relação que tinha com seu tio, Cícero, uma “autoridade local”. Os anos foram se passando, Júlio ficou cada vez mais profissional, rezava, chorava após algumas mortes, casou, teve filhos e continuou a matar. Ia à igreja, ascendeu socialmente.
O longa, que chega aos cinemas nesta quinta (2), foi rodado em 2016 nas regiões Norte e Centro-Oeste sob a direção de Henrique Goldman, que também assina o roteiro ao lado de George Moura. O Nome da Morte também conta com as participações especiais de Fabiula Nascimento, André Mattos, Matheus Nachtergaele, Martha Nowill, Tony Tornado e Augusto Madeira.
Em entrevista ao Observatório do Cinema, Marco Pigossi revelou detalhes das filmagens, o processo de construção do personagem, baseado em fatos reais. Júlio Santana ganhou destaque por conta do livro de mesmo nome escrito pelo jornalista Klester Cavalcanti em 2006: “Ele não tinha prazer em matar, ele não era um psicopata”, afirmou.
Confira a entrevista:
Júlio Santana, uma vítima da desigualdade social
“Claro que condeno o que o Júlio fez, mas ele é também uma vítima da falta de cultura e educação no país. É um filme sobre onde termina nossa responsabilidade como sociedade e onde começa a do Júlio como individuo.
É uma denúncia pra se falar, não uma denúncia de impunidade. É uma denúncia da falta de educação e cultura do nosso país. O Júlio é uma vítima, ele foi colocado nesse lugar. A gente precisa defender nossos personagens, eu condeno tudo o que ele fez, mas ele é uma vítima.”
Psicopata ou matador profissional?
“Ele mata um, mata dois, três. O ser humano é um produto de onde ele vive. Se ele é treinado pra matar, ele vai matar. Os conceitos morais, ele carrega muita culpa, ele é desconstruído. Ele vai se acostumando. Ele não tinha prazer em matar, ele não era um psicopata.”
Caracterização
“Não tentei em nenhum momento imitar o Júlio. O Júlio é completamente diferente de mim. Não conheci o Júlio. Não é um documentário. Meu Júlio veio do Marco [autor do livro O Nome da Morte, Editora Planeta].”
Cenas mais marcantes
[Uma indígena e uma dona de casa que morreu sob a encomenda do marido] “Foi uma cena muito violenta. Repetimos algumas vezes. Afogamento seguido de tiro. Muita força física. O chão ficou molhado, ela escorregou. É de uma violência… Foi uma loucura, uma repulsa muito grande.”
Crimes políticos, feminicídio e homofobia
“Esse filme é uma denúncia. É uma coisa que acontece até hoje. Esse país é o que mais mata membros da comunidade LGBTQ+, direitos humanos, mulheres… Isso é uma loucura. As pessoas são contra os direitos humanos. É assustador. Precisamos falar sobre isso. Tomará que esse filme traga esse diálogo.”
Júlio Santana e a igreja
“Eu vejo uma grande diferença ente educação e cultura, apesar de nossos políticos acharem que é a mesma coisa. Educação você vai ser formado, vai exercer sua profissão. Cultura você vai existir como individuo e cidadão. Se você não tem acesso à cultura e a educação, você se torna uma massa de manobra.
Algumas religiões se aproveitam disso. Pessoas frágeis, sensíveis, da falta de conhecimento… A falta de entender o mundo por si mesmo, elas [as pessoas] são manipuladas. Ele [Júlio] está dentro desse lugar. Exatamente.”
A desconstrução do personagem
“É um processo de desconstrução mesmo. Um pouco de meditação, toda arte é uma manifestação política e social. Depois é férias, fazer a barba, cortar o cabelo…”.