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A história do Homem-Aranha que mudou tudo na Marvel

Steve Ditko influenciou todas as histórias do Homem-Aranha

A vida não é fácil para Peter Parker, nem mesmo após ele se tornar o Homem-Aranha. Ele constantemente precisa tomar decisões incrivelmente difíceis e algumas vezes isso resulta em perder aqueles quem ele mais ama. Isso, de fato, é algo construído em um arco icônico do personagem, que para sempre mudou a Marvel.

Nos últimos anos, os fãs têm ficado cada vez mais insatisfeitos com o tratamento da Marvel Comics ao seu personagem mais rentável, já que a maré de azar de Peter ofusca as proezas heroicas do Homem-Aranha em todos os momentos.

No entanto, houve um tempo, nos primeiros anos do Homem-Aranha, em que seus erros e infortúnios não eram o cerne de sua caracterização. Em vez disso, eram os obstáculos que ele precisava superar para se tornar um verdadeiro herói.

Entrando em ação em 1962, o Homem-Aranha não demorou a conquistar o coração dos leitores de quadrinhos. Stan Lee e Steve Ditko criaram um super-herói acessível, cujas aflições eram relacionáveis ao povo comum, tornando o Homem-Aranha um herói da classe trabalhadora.

Seu alter ego, Peter Parker, era apenas um garoto que ainda carregava o peso do mundo em seus ombros. Infelizmente, o pobre Peter seria atingido por uma tragédia após a outra, tanto em sua vida privada, quanto como herói mascarado.

Ainda assim, ele continuou lutando, não importando os desafios que o mundo lhe impunha. Isso é especialmente evidente na história em quadrinhos de 1965, intitulada If This Be My Destiny (se esse for o meu destino, em tradução livre). Embora o Homem-Aranha já estivesse por aí há algum tempo naquele ponto, foi nessa história que o personagem mostrou pela primeira vez seu espírito indomável, como aponta o CBR.

Arco definiu a história do Homem-Aranha

Trata-se de um arco de três edições, começando com The Amazing Spider-Man #31 (de Stan Lee, Steve Ditko e Sam Rosen), que colocou o amigão da vizinhança contra uma organização criminosa de alta tecnologia e seu misterioso Planejador Mestre.

Nesse ponto, o Homem-Aranha não era mais um novato no combate ao crime e tinha uma sequência de vitórias em seu currículo. Peter também estava florescendo em sua vida pessoal, frequentando a prestigiosa Empire State University como aluno de bolsa de estudos em ciências.

Após a morte repentina do tio Ben, fazia muito tempo que os Parkers não comemoravam nada. Quando a tia May de Parker ficou gravemente doente com uma doença que os médicos não conseguiam diagnosticar, Peter se viu sobrecarregado pela ideia de que poderia perder sua única figura parental restante.

Neste ponto, Peter penhorou seu valioso conjunto de química que seu tio lhe havia dado para arrecadar dinheiro para o tratamento de sua tia. Peter Parker acaba perdendo o contato com seus novos colegas de classe, que interpretaram sua tristeza como distanciamento.

No entanto, por dentro, o jovem enfrentava uma crise pior do que qualquer supervilão. Quando as coisas pareciam não poder piorar, Peter descobriu que a inesperada doença de sua tia era culpa dele.

Edições anteriores, Peter havia feito uma transfusão de sangue em sua tia May. Agora, seu sangue radioativo estava progressivamente matando-a. Peter descontou sua raiva em tudo e todos ao seu redor, terrivelmente lembrado da morte de seu tio por causa de seus erros.

A condição da tia May era resultado direto das ações bem-intencionadas de Peter. Tudo isso pareceu mudar Peter. Como Homem-Aranha, seu senso de humor peculiar havia se tornado sua característica definidora, provocando seus inimigos e encantando seus fãs com uma constante série de piadas que definem seu personagem. Contudo, envolvido em uma espiral descendente, o Homem-Aranha parecia perder seu senso de humor nesse momento. Em vez de piadas, ele passou a ser definido por sua raiva.

Steve Ditko planejou esse arco de história como uma série de trabalhos hercúleos projetados em torno de um MacGuffin.

O Homem-Aranha avança de ponto em ponto antes de chegar ao “chefe final”, seu arqui-inimigo de longa data, o Doutor Octopus. Para chegar até ele, Peter precisa superar uma série de obstáculos intransponíveis. Conforme o Cabeça de Teia invade esconderijos da máfia em busca de respostas, ele deixa suas piadas para trás, e a arte frenética de Ditko mostra-o atacando os inimigos como um animal selvagem, ignorando sua própria segurança e o bem-estar de seus alvos humanos.

A luta do Homem-Aranha chega ao auge na última edição, quando ele se vê preso sob os escombros depois de um confronto com o Doutor Octopus. Ditko muda para uma sequência de segundos antes de pular de cena em cena, alternando seus painéis entre uma tia May doente em seu leito de morte, um recipiente contendo a cura para ela, os capangas esperando pela aparição do Homem-Aranha e o herói preso.

A pressão emocional de Peter havia se manifestado como peso físico, esmagando-o lentamente até a morte. Somente a lembrança de seu juramento ao tio Ben e o conhecimento de que sua tia May morrerá sem ele lhe dão forças para se libertar.

As ilustrações de Ditko vão em grande detalhe aqui, mostrando cada momento exasperante do Homem-Aranha em conjunto com a narração de Lee, que traduz os esforços impossíveis de Peter em palavras. Sua fuga aqui é tão metafórica quanto física. Ele não conseguiu fazer isso por si mesmo, mas por causa de seu amor por sua família, o Homem-Aranha consegue sobreviver e continuar sua missão no mundo.

Stan Lee e Steve Ditko discordaram sobre o herói

If this be my Destiny foi o ponto alto da relação de trabalho entre Stan Lee e Steve Ditko. Mas para Stan Lee, o Homem-Aranha era o campeão do povo, um porta-voz das ideologias liberais que, como todo cidadão americano de classe média, cuidava de sua família e vizinhança.

No entanto, Steve Ditko era um objetivista e acreditava que os heróis precisavam superar desafios por meio da força de vontade individual. Como resultado, o Homem-Aranha de Ditko se afastou das parcerias de super-heróis e começou a enfrentar seus inimigos de frente. Isso também deu a Ditko a chance de criar circunstâncias mais desafiadoras para o Homem-Aranha, mergulhando-o cada vez mais em um poço de desespero e deixando-o lutar para sair e construir seu personagem.

Esses tipos de narrativas são familiares aos fãs do Batman, mas fizeram o Amigão da Vizinhança Homem-Aranha parecer bem menos amigável.

Stan Lee e Ditko tiveram uma discordância fundamental sobre quem era o Homem-Aranha e quem ele precisava ser. Eles se separaram após trinta e oito edições, mas Ditko já havia feito um enorme impacto na mitologia do Homem-Aranha.

If This Be My Destiny foi um dos primeiros exemplos da “Sorte de Parker”, a eterna série de infortúnios que parece definir o Homem-Aranha e tem a intenção de torná-lo mais relacionável que heróis como o Superman.

Ditko deixou o Homem-Aranha para trás, mas ele já havia mudado o status quo do herói para sempre, definindo a identidade dele dali para a frente, mudando para sempre a história da Marvel no processo.

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